A opinião de ...

Estás proibido de desistir de ti próprio

A vida é mesmo uma soma de acontecimentos que, infelizmente, nos passam completamente ao lado. Atordoados e envolvidos nas azafamas das nossas vidas e das nossas rotinas, a vida vai mostrando o seu lado mais escondido, mais belo, mais indomável e mais sedutor. Quantas vezes não vivemos sufocados nos nossos pensamentos, nas nossas inquietações, nas nossas obrigações e nas nossas prioridades? No fundo, vivemos centrados em nós mesmos, como que numa bolha, sem saber na verdade quem nós somos.
A este propósito dizer que – até por experiência do meu ministério sacerdotal – muitas são as pessoas que se sentem perdidas neste labirinto que nós próprios criamos pela ânsia de ter ou de conseguir ter. A vida pessoal e profissional de hoje é exigentemente activa, o que impede (tantas vezes!) a possibilidade de parar, de nos olhar em espelho e tomar consciência de quem nos rodeia.
A dinâmica do nosso estilo de vida pode provocar um esgotamento geral, como que um vazio, onde a vida perde significado e sentido. Quando o que nos move ou nos sustenta é o ter, o conseguir ter e o querer ter para ser, inevitavelmente o nosso coração fica sedento. E por isso ele grita! Grita para que saiamos deste marasmo, deste espiral tóxico, corrosivo e vazio.
Dir-me-ão: mas é tão difícil sair deste viciante ritmo... é tão aditivo! Quantas vezes não cremos nós que este parece ser é o único caminho? É tempo para parar uns instantes e pensar: quem nós somos e quem nós queremos ser? Não o que queremos ser, mas quem realmente somos no dia hoje. Não projectar, mas discernir o presente. Julgo que este é o grande desafio do tempo actual, do tempo em que nos é dado viver, o hoje da nossa vida e da nossa existência. Necessitamos de gritar (!) a nós próprios, lembrando que estamos proibidos de desistir de nós mesmos!
Desistir é próprio de quem já perdeu significado. Quando desistimos de nós mesmos ou de alguém, esse acto gera perda de sentido e, concomitantemente, perda de significado. Aliás, o amor e o amar não são um adjectivo. Antes, são um substantivo e um verbo que impulsionam o descobrir da minha real identidade, da minha verdadeira essência e da minha primordial missão. Por isso, o amor e dor caminham juntos. Não há amor sem dor. O premio do amor é sempre a dor: o acto de sofrer por alguém é a expressão maior do amor. Nós só sofremos por quem realmente amos. No entanto, se na dor não houver amor, então a dor torna-se destrutiva.
Portanto, não nos permitamos desistir de nós próprios, dos outros e de Deus. Quando desistimos, perdemos a alegria do viver e, perdendo essa alegria, perdemos a esperança. E quando nos roubam a alegria, roubam-nos o futuro. Este ciclo concluirá com a perda de significado e de sentido. Qual a consequência? Desistimos de viver, desistimos de amar, desistimos de sonhar, desistimos de criar e de ser vida na vida de alguém. E que triste é quando isto acontece... Por isso reitero: jamais se permita a que lhe roubem a alegria e a esperança e, com isso, o seu futuro!
O tempo presente não pode e nem deve passar sem que nos inquiete a esta demanda de mudança, de significado e de sentido. Gostava, a terminar, que cada um de nós pudesse fazer as seguintes perguntas e se deixasse perturbar por tudo e por quanto o seu coração lhe instigar: tu, na verdade, já desististe de alguém? Já desististe de ti próprio? Já desististe de amar, de sonhar, de descobrir quem és e quem estás destinado a ser? Já desististe de ser vida na vida de alguém? Já desististe de ser significado e sentido na tua própria vida e na vida de alguém? Deus é para ti ostensório de sentido e de significado?

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