Mirandela

Suspeito de ocultar cadáver da mãe pode ter desviado mais de 37 mil euros da pensão

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2022-10-27 10:58

Caso se confirme que Julieta Gomes tenha falecido, em março de 2020, o filho terá recebido indevidamente mais de mil euros por mês.

Nuno Albino, o homem de 50 anos indiciado pelo crime de profanação do cadáver da mãe, pelo qual aguarda julgamento com termo de identidade e residência e apresentações diárias à PSP de Mirandela, pode ter-se apoderado de mais de 37 mil euros referentes ao valor total da pensão que a progenitora tinha direito a receber, caso estivesse viva, entre março de 2020 e outubro de 2022.

Apesar de ainda não se saber em concreto quando terá ocorrido a morte de Julieta Gomes, haverá alguns indícios que levam a PJ a suspeitar que a mulher de 70 anos morreu em fevereiro ou março de 2020 e que o filho não sinalizou o óbito para receber a pensão da mãe. É sobre este quadro que decorrem as investigações

A antiga auxiliar de ação médica no hospital de Mirandela, tinha uma reforma mensal superior a mil euros, resultante da pensão de velhice e de sobrevivência, após a morte do marido, há nove anos. “Foi desde a altura que o marido dela morreu que as complicações começaram entre ela e o filho, Tratavam-se muito mal”, conta um morador nas imediações da casa onde viviam Nuno e Julieta, que não se quis identificar. “Não quero problemas com ele”, acrescenta. “Uma coisa é certa, houve tempos em que ele saía de casa às oito da manhã e só regressava à noite, não sei se lhe deixava a medicação ou até de comer durante o dia”, afirma este vizinho confirmando que já não via a Julieta há muito tempo. “Não sei precisar desde quando, mas certamente há mais de um ano”, diz.

A própria PSP não terá conseguido notificar Julieta, que sofria de Alzheimer, no âmbito de um processo relacionado com violência doméstica e comunicou o facto ao tribunal. O Ministério Público instaurou um inquérito que foi entregue à Polícia Judiciária para investigação e que culminou no desfecho agora conhecido.

A Nuno Albino, com antecedentes por consumo de droga, não se conhece qualquer profissão desde 2012, ano em que deixou de gerir um bar na cidade de Mirandela. Também ao que apurámos, há mais de nove anos que não está inscrito no Centro de Emprego, não se conhecendo mais nenhuma atividade onde pudesse auferir de um salário, a não ser como resultado de alguns trabalhos esporádicos.

Recorde-se que Nuno Albino foi detido pela PJ de Vila Real, no passado dia 14 de outubro, no dia em que encontraram o cadáver da mãe em avançado estado de decomposição sobre uma cama, na habitação onde ela vivia com o filho, afastada da cidade e com poucas casas em redor. O corpo foi removido pelos Bombeiros de Mirandela para o gabinete do Instituto Nacional de Medicina Legal, na unidade hospitalar local.

A autópsia, que poderá esclarecer se a mulher faleceu de causas naturais ou por intervenção de terceiros, ainda não tem conclusões conhecidas, apurou o Mensageiro.

 

Últimos três anos sem consultas médicas

 

Julieta Gomes também padecia de problemas do foro psiquiátrico que se agravaram em 2016, altura em que esteve internada na valência da especialidade durante mais de um mês, vindo a ser acompanhada pela especialidade de neurologia, até ao Verão de 2019.

Desde então, apurou o Mensageiro, não há qualquer registo de consultas médicas, nem no centro de saúde nem no hospital local.

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