A opinião de ...

Políticos e as suas polícias

No dia 13 de Dezembro o Diretor Nacional da PSP (DN) foi recebido em Belém por S. Ex.ª. o Presidente da República, para fazer um balanço da actividade policial num ano de enorme exigência operacional. A notícia do momento era a demissão da diretora do SEF e a remodelação desta Polícia. O assunto foi também abordado na reunião.
À saída e na conversa com os jornalistas, com transmissão em direta das televisões, o superintendente-chefe Magina da Silva, teve a ousadia de pensar alto. Disse aos portugueses o que tinha proposto ao Sr. Presidente. O que pensava sobre a reforma do sistema policial. Após mostrar empatia e elevada consideração pelos profissionais do SEF, esclareceu que a sua proposta passava pela criação de uma Polícia Nacional através da fusão do SEF com a PSP. Quase “caía o Carmo e a Trindade”. Não caíu o DN porque o Sr. do MAI também não estava nada seguro e foi ele que o escolheu, entre várias alternativas, há apenas um ano.
Vários políticos e fazedores de opinião criticaram a atitude do DN. Muito poucos o compreenderam. Sabem porquê? A verdade é que estes políticos e “opinion makers” acham que os polícias não podem pensar. Não foram feitos polícias ter opinião. São mal pagos, mas só para cumprir e servir. Sobretudo, não podem pensar quando o assunto é coisa séria, como é a política. Ainda que, como neste caso, seja a política de segurança interna, que lhe diz diretamente respeito. Que mexe com as suas vidas. Que lhes tira o sono todas as noites. Que não deixa passar os fins-de-semana e feriados, junto das famílias, com tranquilidade. Só podem pensar quando é para agir, no momento da ação. E aí não podem errar. Têm que se decidir e agir segundo o que é correto.
Esqueceram-se todos que o ISCPSI foi criado em 1982. Iniciou funções em 1984, com o objetivo específico de formar os oficiais do quadro da Polícia e prepará-los para assumirem a sua direção. Vem sendo assim desde 2012 quando, pela primeira vez, um polícia de formação foi nomeado DN. A formação universitária, com base no Direito, assenta nos princípios da ética e do humanismo, com vertentes científica e tecnológica. Alguns professores eram também formadores de homens e ensinavam a pensar. Os bons alunos também aprenderam a pensar.
O atual primeiro-ministro foi Ministro de Estado e da Administração Interna em 2005/07. Prometeu reformas na organização policial. Havia polícias a mais. Vários atores com falta de coordenação e cooperação eram causa da ineficácia do sistema. Várias tutelas políticas com numerosos órgãos de polícia criminal, potenciando conflitos de competência e uma cultura concorrencial. Nenhum modelo de solução proposto foi adotado. Passavam pela integração de polícias. Esse poderoso ministro complicou ainda mais. Criou o Secretário-Geral Segurança Interna com vastas funções de coordenação, direcção, controle e comando. Existe mas não funciona.
O que o DN pensou e disse alto foi que é um facilitador da acção política. Mas há tachos que se perdiam. Não pode ser. Dividir para reinar é o lema dos políticos fracos.

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