A opinião de ...

Angola é nossa gritarei…

Há 60 anos o colete-de-forças da ânsia pela independência de Angola rasgou-se de modo violento violando, destroçando, mutilando e matando de modo hediondo crianças, mulheres e homens em virtude do ditador Salazar não ter compreendido os ventos da História, menos ainda a luta de guerras independentistas por toda a África e Ásia. O manhoso de Santa Comba ignorou os avisos «do destino» dos sopradores das secretas ocidentais, desdenhou a guerrilha, cuja eficácia e persistência exemplifico com a sinistra Mau-Mau, resultando de tão trágico desatino a chacina de milhares de pessoas negras, mulatas e brancas.
Ora, nesta época de revivalismos espúrios, de nefandas leituras maniqueístas do ocorrido desde há sessenta anos até Abril de 1974, importa acima de tudo lembrar as cruéis matanças num dorido lamento ante a cega política do poderoso Salazar acolitado pelos seus áulicos civis apoiados numa guarda pretoriana chamada jocosamente Brigada do reumático.
A História das guerras coloniais nos seus efeitos malignos tem sido objecto de centenas de estudo poucas vezes fora de conteúdos do «preto e branco» originando distorções em que os inocentes tal como as ovelhas do famoso filme onde a famosa Jodie Foster defendeu.
Os inocentes tiveram nome, muitos (a maioria) partiram dos seus terrunhos metropolitanos no desejo de saírem da abjecta vida que levavam pautada pelo centeio escudo pesado e a broa escura, a miséria, a doença e mortes prematuras. Não sabiam o que era o racismo, sabiam, isso sim, que o pão branco, fresco e bem cheiroso ser privilégio de muito poucos a que chamavam ricos. Por seu turno os negros e negras em Angola assim como nas outras colónias padeciam dos mesmos males agravados pelos chicotes dos administradores coloniais e demais funcionalismo, não podendo causar espanto o terem dançado e cantado ao ouvirem irmãos seus doutrinados por indivíduos do calibre de Holdem Roberto o qual na esteira de Patrice Lumunba procuravam cumprir a sentença de Fanon, «homem branco, é bom quando morto».
Agora, em 2021, considero erro enorme, em Portugal, existirem mastins de dentes aguçados entusiasmados pela possibilidade acicatarem ódios, rasgarem as páginas da História que não lhe agradam, substituindo-as por outras repletas de ortodoxia avivadora de pulsões negativas a solidificarem antagonismos a perdurarem gerações a fio, quando manda o bom senso serem erradicadas de modo sistemático do nosso viver em sociedade.
Os agitadores de águas turvas de um lado e do outro agitam espantalhos a fim de manterem doutrinas prenhas de ressabiamento mútuo, os espantalhos têm de desaparecer no horizonte que deve estar limpo de escaras atormentadoras do quotidiano, a persistirem, todos nós vamos agora em regime de pandemia e, quando a pestilência desaparecer, não desaparece a cólera dos contrários para nosso evidente prejuízo moral e material.
Nos sessenta anos do começo das hostilidades, seria, é, importante aproximarmos aquilo que nos une de forma a fortalecermos os traços de união entre os dois povos. A união faz a força!

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