A opinião de ...

Que grande Trump(alhada), Mr. Donald!

No discurso de tomada de posse como 47º Presidente dos EUA, em 20 de Janeiro, Trump foi igual a si mesmo, isto é, o Trump da campanha eleitoral: autoritário, egocêntrico, hiperbólico e fanfarrão, prometendo fazer regressar a América aos seus períodos gloriosos como Nação e Estado (America first, AF, e to make America great again, MAGA), isto é, isolada de tudo o resto. Este isolacionismo é uma ilusão no tempo actual porque as economias já adquiriram um tal estado de interdependência e integração que é impossível desenvolverem-se isoladamente. Mas Trump, convencido de que a América ainda é senhora absoluta do mundo, tenta pôr e dispor tudo à sua maneira, dentro e fora dos EUA. Em breve veremos as consequências.
A expulsão ou deportação dos imigrantes indocumentados ou ilegais era expectável mas, a menos que os cidadãos americanos tenham empobrecido imenso, não serão estes que vão desempenhar os trabalhos menos valorizados socialmente, vulgo sujos, mas sim os imigrantes, o que significa que estes vão ser necessários a uma economia em desenvolvimento. Até porque como chamou a atenção a Trump na tomada de posse a Bispa evangélica Mariann Edgar Budde (tinha de ser uma mulher a ter este acto de coragem), a maioria deles não será criminosa. Trump só tem razão na necessidade de regular a imigração para que ela não seja caótica e para que se não fomente ainda mais o já caótico comunitarismo dos EUA, para o qual, entre nós, só agora o PS e o PSD acordaram.
Noutro plano, Trump riscou o nome dos EUA dos acordos sobre o clima, sobre a OMS e sobre o IRC para deixar expandir a indústria poluente, ao mesmo tempo que prometeu subalternizar as energias renováveis face às fósseis. Os grandes magnatas da indústria poluente só aceitarão limitar a poluição quando lhes entrarem pelos olhos dentro as evidências das alterações climáticas e das restantes consequências da poluição. Por enquanto, vão sustentando a polémica.
Quanto às guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, Trump pensa o absurdo julgando que uma potência nuclear (Rússia) vai ceder aos seus caprichos e que é possível a resolução do problema de Israel por um segundo holocausto pela expulsão dos palestinianos de Gaza para ali instalar mais colonatos judeus. A cartilha é clássica e consabida mas quem deu o pretexto foi o Hamas em 7 de Outubro de 2023. O problema só se resolverá pela criação do Estado Palestiniano. Até lá, só guerra sobre guerra.
Em tudo o mais Trump seguiu a cartilha liberal conservadora e tradicionalista: aliança com as Igrejas, com os empresários e classes sociais mais ricas, expansão do território, proteccionismo securitário, demonização das raças e etnias não caucasianas (europeias), belicismo, condenação de movimentos sociais não ortodoxos. Numas áreas tem razão, noutras muito pouca.
O Partido Republicano e particularmente Trump representarão o «governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos» (Pedro Guerreiro, Público de 23-01) e não trará a paz ao mundo mas a guerra, só que este mundo não sabe viver em paz.

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4022

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