A opinião de ...

Experiências do confinamento

Durante esta última quinzena, voltámos a formas de confinamento mais severo, tal como havia acontecido nos meses de março e abril do ano passado.
Passear nas ruas das cidades transmontanas, assim como no resto do país, é agora uma experiência desoladora, com a maioria dos estabelecimentos comerciais, culturais e de ensino encerrados.
E, contudo, a vida continua dentro de portas, adaptando-se melhor ou pior às novas circunstâncias, enquanto aguarda a oportunidade de voltar ao espaço público.
É certo que a situação é agora bem diferente do início da pandemia, quer por haver um desgaste psicológico e económico acumulado quer porque o número de contágios e de óbitos atingiu picos nunca antes vistos em Portugal.
Por isso, é em momentos assim que mais é necessário abrir-se e falar do que as pessoas estão a viver internamente, na maioria dos casos metidas na sua “bolha” de proteção individual ou familiar nuclear.
Também eu tenho vivido o impacto da situação de confinamento, não apenas por estar a trabalhar a partir de casa, mas também porque as minhas redes de interação social ficaram reduzidas ao mínimo, apesar do contributo das tecnologias de comunicação para vencer as distâncias físicas.
Uma das consequências mais importantes do confinamento foi colocar-me perante mim mesmo ou, se se quiser, diante do meu mundo interno, apesar das “distrações” que a televisão e o trabalho me vão proporcionando.
Dir-se-ia que a falta dos estímulos externos habituais produz um efeito de ensimesmamento da consciência, que se vê confrontada com os temores, as frustrações e os ressentimentos, mas também os anseios e as esperanças, que se alojam no seu interior e que estavam amortecidos pelo bulício do quotidiano.
Nesse sentido, este é um tempo para avaliar a construção da própria vida e compreender como se chegou até aqui, mas também para se propor sair do circuito cerrado em que talvez nos encontremos, revendo crenças e ilusões e abraçando e fortalecendo as aspirações mais profundas.
E como poderemos fazer isso? Começando por nos perguntarmos individualmente “Quem sou?” e “Para onde vou?” e tratando de nos respondermos diariamente a essas questões essenciais.
Se a isso adicionarmos, em diferentes momentos do dia, uma breve prática de relaxamento, um pouco de exercício físico e um momento de comunicação sincera com outros, poderemos equilibrar internamente a tensão entre o temor e a fé no futuro, entre o encerramento e a abertura, entre o peso da situação passada e presente e a ligeireza do futuro.
E, assim, pouco a pouco, as nossas emoções e os nossos pensamentos poderão começar a desanuviar-se, deixando espaço para imagens que nos mostrem o que fazer para ajudar outras pessoas a superar a situação difícil que estão a viver e para construir uma sociedade mais inclusiva.

Edição
3820

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