A opinião de ...

Confissões? Porquê? Para quê?

Olá Pe. Hérmino, como vai o Senhor?
- Olá Capelão! Não vou, estou sentado. De que queres falar hoje?
- Pe. Hérmino eu sou como o pregador que, “a propósito e a despropósito”, nas homilias falava sempre da confissão. A dada altura o Bispo, avisado por um paroquiano, do tão “distinto orador sagrado”, pediu para “virar o disco” aos sermões. E, já sabe o que este respondeu ao prelado […]: como estamos no ano dedicado a São José, vou começar a falar deste insigne "patriarca”. Ora, “virado o disco, continuou a tocar o mesmo”. Começa ele assim, no sermão seguinte: “irmãos, estamos no ano de S. José, como sabem era carpinteiro, logo fazia confessionários” […]. Pe. Hérmino, hoje, tal como fez o pregador, voltamos a falar das confissões.
Mas, já agora, se não se importa, continuo a registar os nossos diálogos telefónicos nas páginas do Mensageiro? Pensamos ambos nas questões, o Sr. diz-me o que pensa a esse respeito e, eu verifico as citações bíblicas, e outras e, faço a redação final. Pode ser […]?
- Olha Estevinho, eu continuo a afirmar o que sempre proclamei nas homilias: “ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar, nem tão rico que não precise de receber”. É o que eu te digo […], eu aprendi muito com as crianças quando era professor, pedia-lhe que trouxessem para a aula provérbios, assim ajudamo-nos mutuamente, consolidando, e adquirindo, a ciência do nosso povo, resumida nos seus adágios.
- Bem, vejamos Sr. Capelão, o dia da grande festa da Páscoa da Ressurreição já passou. Mas, será que os cristãos ainda se confessam para a Páscoa?
- Se não for pela Páscoa, que seja no decurso do tempo Pascal, que vai até ao Pentecostes. E, quem sabe, porque não com mais regularidade durante o ano? Sim, Pe. Hérmino, não podemos fechar, com os nossos juízos preconcebidos, os canais à graça de Deus.
- Estevinho era eu criança, no final dos anos 1940, a frequentar a catequese, quando o pároco, na missa dominical, anunciava, no princípio da quaresma, o dia das “confissões anuais”. No dia, e à hora marcada, lá se ouvia o sino, lembrando a todos que era chegado a “desobriga”. Antes do nascer do sol, lá vinha o pároco acompanhado de 2 ou 3 colegas das aldeias vizinhas, proporcionando assim a escolha do confessor, para ouvir os penitentes "desfilar o rol dos pecados”. Feito o exame de consciência, de joelhos diante do confessor, seguia-se a confissão de boca, para depois do arrependimento, fazer o propósito de emenda, receber a absolvição e, cumprir a penitência, geralmente uma oração rezada antes de sair da igreja. Depois, cada um seguia a sua vida, ou para casa, ou para o campo […] e, de lá esperava-se o toque do meio-dia, para ir ao “Ofício pelas Benditas Almas” e, a seguir, cumprir o preceito de “ouvir missa por inteiro” e, fazer a comunhão pascal. Comungar sem confessar era coisa rara. Assim, confessar e comungar, era mais por esta altura.
Hoje, analisando os factos, quem se confessa, nas aldeias e, cidades? Onde tem hoje as pessoas o seu sentir? Será que se pensa que não há pecado? É certo, que a sangria da emigração dos anos 1960 [pós II guerra mundial], como do pós 2011 [conjuntura económica desfavorável], esvaziou os povos, deixando-nos sem o povo que enchia as igrejas? Mas será apenas isso? Não terá Jesus razão no que ensina: “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” [Mt. 6, 21]? Não será verdade que “quando se não vive como se pensa, acaba-se por se pensar como se vive?”
- Pe. Hérmino, como diz um refrão radiofónico, da RFM: “vale a pena pensar nisto”.

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