A opinião de ...

Solidariedade até na hora da morte

Este ano não faço romagens, procissões e, celebrações comunitárias, aos cemitérios para evitar, a todo custo, a propagação do vírus Covid 19, que por cá nos tem afetado, mais do que em qualquer outra região do país.
Durante o mês de novembro, em qualquer dia, como ao longo de todo o ano, os sacerdotes, pessoalmente e, como pastores, somos chamados a rezar por todos os falecidos no cemitério. Agora, sem aviso prévio, avisados exclusivamente pelo dever de implementar uma maior cultura da fraternidade cristã, rezamos por todos os defuntos isoladamente, ou em pequenos grupos. A exigência do momento presente inspira-nos a reinventar, ou retomar, caminhos de maior proximidade, de maior união de todos em Cristo, partilhando orações, ou simplesmente desejos e, aspirações de eternidade. Na visita aos cemitérios, clérigos, sacerdotes e, leigos, devemos adotar atitude idêntica. Visitar os defuntos individualmente, ou em família, mas nunca mais de 2 a 3 pessoas, em volta das campas, para evitar a propagação e, o contágio do vírus da indiferença e, sobretudo neste momento, o Covid 19. Façamos frequentes visitas aos cemitérios, mas mais do que aglomerar a família em volta das sepulturas, vinquemos, e não esqueçamos, os laços que nos unem, para que com a prática da fraterna solidariedade ultrapassemos as dificuldades da vida e, nos mantenhamos vivos, presentes em Deus, mesmo após a hora da morte.
Programemos as visitas aos cemitérios, tendo em linha de conta as diretrizes da Direção Geral de Saúde [DGS]. A responsabilidade social exige o correto uso de máscara, a desinfeção abundante das mãos, que se evite os aglomerados de pessoas, que asseguremos o distanciamento social conveniente e, nos cemitérios não se partilhem e utilizem objetos comunitários, como baldes e vassouras.
As diferentes autoridades locais, por esse país fora, reinventam-se para agir o mais adequadamente possível. Aumentam a vigilância à porta dos cemitérios para impedir concentrações. A Conferência Episcopal pede para não fechar totalmente os cemitérios, para que o luto mal resolvido não mate tanto como o Covid. Municípios há onde já se fazem escalas para os vigilantes, para limitar entradas e controlar a lotação do espaço, pedindo toda a brevidade possível nas visitas, ajudando a agilizar os fluxos de pessoas.
D. Jorge Ortiga, Arcebispo Metropolitano de Braga, sugere o estabelecimento de uma ligação mais afetiva como os mortos, mais pela “oração, esmolas e por todas as experiências de caridade”. As flores e, as velas são importantes, mas a limpeza, aliada à modesta ornamentação, das sepulturas é mais expressiva. Deixemos que fale a simplicidade simbólica dos pequenos gestos de amor e, afastemo-nos da opulência vazia de sentido, que por vezes só produz vaidade e, gastos exagerados.
Nas igrejas, já nos habituamos à estreiteza dos limites, da capacidade do espaço, e à implementação de todas as demais normas de segurança. Atendendo a tudo isso, para evitar aglomerações, e não correr riscos desnecessários, este ano celebro apenas missa pelos fiéis defuntos na igreja e, não vou em romagem ao cemitério.
Os párocos, em articulação com o Bispo da Diocese, as orientações da Conferência Episcopal, em diálogo com as autoridades locais, temos procurado manter a segurança, cumprindo escrupulosamente com todas as indicações da DGS. Ajustamo-nos às conveniências de cada momento, na salvaguarda dos interesses pessoais e coletivos. Prezamos pela higiene, segurança, bem-estar e, pela digna celebração da eucaristia e, demais sacramentos e sacramentais, por isso e, para não aumentar o drama, agimos em conformidade pela salvaguarda e respeito pela vida humana.

Edição
3804

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