José Mário Leite

O PARCEIRO

Impõe-se que comece está crónica com uma declaração de interesses: no PSD, meu partido de sempre, encontro-me na ala social-democrata, mais à esquerda, e é aí que sou, normalmente, identificado. Facto que não me tolda a razão, não me radicaliza o discurso nem me impede de ter, na política partidária, um olhar realista e pragmático.


NOVE DE ABRIL DE 2015

 
9 de abril 2015. O sol nasceu às 7:10 e vai pôr-se às 20:07. No calendário de parede, suspenso num prego velho e enferrujado espetado na caliça amarelecida, o dia assinalado, com largo círculo vermelho, na matriz numérica enquadrada por longínqua paisagem nórdica é o nove. O mês é abril. O ano, 1975! Quarenta anos depois, o quarto da velha pensão Machado Cura mantinha-se igual. Parara no tempo.
Levanto a persiana de tabuinhas pintadas de verde desbotado e espreito para o largo em frente aos Correios. Juraria que o carteiro de bronze ganhou vida.


A LISTA, O PERFIL E OS PERFILADOS

Interrogo-me se, nos tempos que correm, não haverá uma inversão de valores, em que se troca o essencial pelo acessório, se discute o pormenor esquecendo o substancial. Comecemos pela famosa Lista Vip dos contribuintes cujo acesso por parte dos funcionários das finanças despoletaria um procedimento de alerta, em tempo real. Obviamente que os contribuintes são todos iguais e todos têm direito a igual tratamento por parte da Autoridade Fiscal. Mas, em boa verdade, não é de tratamento discriminatório que se trata. Se não vejamos: essa lista destinava-se a dar tratamento de favor a alguém?


COMO DISCORDAR DE QUEM PENSA COMO NÓS

Vamos aos factos: António Costa promoveu a destituição de António José Seguro, ao arrepio da legalidade estabelecida a meio de um mandato que os militantes lhe tinham legitima e democraticamente conferido e que só terminaria, segundo as regras vigetes, depois das legislativas. A razão para o “golpe de estado”, segundo o atual líder socialista, o seu anteccesor não conseguiu capitalizar o descontentamento que a maioria no poder provocou no eleitorado. Era preciso mais. Era preciso fazer melhor.


ABYSSUS ABYSSUM

Abyssus Abyssum, e o Sultão foram, desde sempre, os meus contos favorito dos Meus Amores de Trindade Coelho. Sempre me fascinou a atração que a presença do precipício exerce sobre quem dele se aproxima ou caminha à sua beira. Olhando para a política partidária portuguesa sentimo-nos, como o escritor mogadourense a olhar, sem nada poder fazer, o António e o Manuel a meterem-se no pequeno barco e a largarem, rio abaixo, em viagem irreversível em direção ao abismo.


Passos perdidos crónica do futuro

Dia 25 de Fevereiro, a centenária  livraria Ferin era pequena para acolher as dezenas de transmontanos que se juntaram a vários escritores ilustres para assistirem, por antecipação, à contemporânea queda de um anjo. É-lhes apresentado José Luciano de Castro em atualíssimo discurso de 150 anos pela voz autorizada e eloquente de Ernesto José Rodrigues. O referido discurso subirá no próximo dia 9 de Abril à tribuna parlamentar da Assembleia da República a ser lido por João Felix Filostrato em inédita intervenção, depois de quarenta anos de apagada carreira parlamentar.


A GRÉCIA, A TROIKA E O BACILO DE KOCH

Durante o fim de semana de Carnaval tive de me dirigir, com um familiar, à urgência do Hospital de Santo António, no Porto. Depois de cinco horas de desesperante espera abandonámos as instalações hospitalares sem qualquer consulta! Não sei as razões para tão dilatado tempo de espera (havia muitos utentes, todos com pulseira amarela, com tempos de espera superiores a 10 horas e sem saberem quando poderiam ser atendidos). Observei, durante o tempo que ali estive as entradas e saídas e elas equivaliam-se.


INACREDITÁVEL!

A senhora Ministra da Justiça brindou-nos, esta semana, com mais uma das suas inacreditáveis afirmações. Desta vez, contudo, o caso é mais grave e mais sério.
A inefável governante teme seriamente que se o PS ganhar as próximas eleições deixe de haver separação de poderes. Depois de garantir que as escutas telefónicas abusivas e ilegais são uma realidade com que convive bem (limita-se a proteger-se delas falando ao telefone assumindo que o mesmo pode ser um gravador) não vejo que maior dislate poderia a responsável da justiça dizer. Por várias razões:


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