A opinião de ...

JOGOS DE GUERRA

Alexandros Athanasiadis deixou a sua querida Grécia há uma boa dúzia de anos para vir desenvolver a sua atividade de investigação em cristalografia no Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa. Estando longe de casa não deixa de seguir atenta e preocupadamente a situação grega. Tive o privilégio de partilhar ideias com ele na hora de almoço. Apesar das grandes diferenças, sobretudo ideológicas, que nos separam, facilmente chegámos a conclusões comuns.

Joga-se na Europa o jogo da corda. Todos puxam, sabendo que está prestes a estourar, esperando que parta do outro lado, dado o dramatismo que essa quebra trará para o lado que quebrar. Não é fácil a posição do Governo Grego e não foi inocente a escolha de um especialista em jogos para principal negociador. O seu recente "afastamento" não terá sido, seguramente,  nenhuma despromoção fará antes parte da estratégia helénica neste complexo tabuleiro.  Tal como a "despropositada" e "disparatada" declaração de Varoufakis de que terá gravado a última reunião do diretório financeiro europeu.

A oposição à estratégia grega no quadro atual tem mais a ver com a situação interna de alguns governos, como os ibéricos, com eleições à porta, do que com a justeza ou exequibilidade da proposta do Syrisa e seus aliados.

Neste caso é o tempo, mais do que o dinheiro, que traz os maiores constrangimentos. Por causa, precisamente, das eleições deste ano. Dado o alento que o Syrisa traz para o Podemos espanhol, o PP do país vizinho tudo fará para que as teorias gregas não tenham qualquer viabilidade. Ou seja,  o Governo grego poderia mais facilmente fazer vingar algumas das suas propostas se isso não representasse uma ameaça para terceiros. Até porque o que é bom no curto prazo já o não é no médio longo prazo. Se o Podemos ganhar capacidade de fazer ouvir a sua voz e vingar algumas das suas reivindicações, os gregos sairiam da incómoda posição de estarem sozinhos contra todos. Se a negociação no Eurogrupo acontecesse depois das eleições espanholas seriam garantidamente mais fáceis. Mas esssa é a principal razão para serem tão difíceis agora.

Será legítimo que um partido tente cumprir o principal objetivo da sua existência: conquistar e manter o poder executivo. Mas essa legitimidade tem limites. Traçar a linha delimitadora é um enorme e complicado desafio. O certo é que se as coisas lhe correrem mal, fica penalizado, é certo, mas só até ao ciclo seguinte. Nas próximas eleições tudo pode ser recuperado!

Já o prejuízo que atinge a população, em nome e benefício de quem, supostamente, tudo é feito, não é reparável com a mesma ligeireza.

 

A propósito desta situação lembrei-me que nos idos anos oitenta, quando os computadores começavam a democratizar-se e os respetivos programas a atingirem alguma sofisticação, um colega meu, recém-licenciado, foi mobilizado para a tropa, na Marinha. A função dele, contou-me depois, foi instalar uns simuladores de guerra para que os oficiais pudessem testar os dispositivos de defesa caso houvesse um ataque ao nosso país. Nessa altura o arsenal lusitano era muito limitado e o meu colega tinha de subestimar consideravelmente o poderio militar inimigo para que a simulação pudesse ter algum significado ou, de outra forma, a capitulação total acontecia logo ao primeiro assalto. Achámos piada à situação. O problema é quando os generais resolvem transportar para o terreno, em cenários reais, as estratégias testadas e  congeminadas nos gabinetes.

 

Também eles, quando perdem as guerras, poderão afinar estratégias e corrigir os erros cometidos, numa próxima oportunidade.

Os que tombarem em combate é que não!

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