Nordeste Transmontano

“Famílias estão a ter dificuldades com a subida das prestações das casas”

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2023-04-21 14:42

Na semana em que entra em vigor a medida de IVA zero em 44 produtos como forma de ajudar a combater a inflação, o economista Paulo Reis Mourão diz ao Mensageiro que “na fatura do cabaz de compras habitual não” se vai sentir a descida de preços.

“Nalguns produtos sim, sentiremos uma descida de preço, ainda que de um ou dois cêntimos. Na fatura do cabaz de compras habitual não. Estas medidas, ensaiadas noutros países, tenderam a ser mais propagandísticas do que factuais”, referiu o investigador transmontano e docente de economia da Universidade do Minho.
Por isso, Paulo Reis Mourão considera que “até prova em contrário, não” é uma medida relevante para os consumidores.

Voucher seria medida mais eficiente

O professor de economia considera mesmo que haveria outras medidas que poderiam ter um impacto mais positivo na carteira dos consumidores.
“Uma alternativa seria um voucher para produtos específicos de base de consumo, como por exemplo, sobre a alimentação. Seria preferível cada contribuinte receber um apoio de 50 euros descontável só em produtos específicos (como alimentos essenciais, em postos de venda identificados) do que este ensaio que, refiro, até prova em contrário, parece um elemento mais gerador de entropia e de propaganda do que, efetivamente, um apoio junto das famílias”, explica o investigador.

Recorrendo a exemplos de medidas tomadas noutros países de dentro e de fora da zona euro, Paulo Reis Mourão aponta outras medidas que poderiam ser tomadas.
“Há medidas muito diversificadas (e dependendo se estamos a lidar com economias da zona euro ou fora da zona euro). Desde cortes no IVA, até apoios específicos ao consumo energético ou de bens essenciais, passando também por tabelamento dos preços, impostos sobre os lucros dos setores mais inflacionados (windfall profit taxes) bem como por vouchers diretos atribuídos às famílias mais vulneráveis. Bem como subsídios às indústrias compostas por micro e pequenos empresários”, referiu ao Mensageiro.

 “Inflação está mais controlada”

Paulo Reis Mourão acredita que a situação da inflação está, agora, “mais controlada”, pelo menos “aparentemente”.
“Aparentemente, está mais controlada. Os preços continuam a subir mas a um ritmo menor. Ainda assim, estamos a falar na generalidade e não em determinados setores detalhados”, frisou.

Um dos principais efeitos que decorrem da inflação é a subida das taxas de juro, uma medida tomada pelos bancos centrais para refrear o consumo e a procura de bens, de forma a que, com uma redução da procura, os preços possam baixar.

Essa subida das taxas de juro refletem-se, sobretudo, nos custos com as prestações das casas, uma situação que está a ter forte impacto nos orçamentos das famílias.
Paulo Reis Mourão acredita que a Euribor, a principal taxa de referência para os empréstimos à habitação em Portugal, ainda vai subir mais antes de começar a descer.
“Em princípio, as taxas de juros acompanham, ainda que com algum lag/desfasamento, o movimento das taxas de inflação. É possível que assistamos ainda a um movimento de retificação em alta da Euribor nos próximos seis meses mas com pressões cada vez menores se a inflação, para a comum das economias europeias ficar abaixo dos 5%”, detalhou.

Em Portugal, de acordo com as previsões apresentadas pelo Governo esta segunda-feira, a taxa de inflação vai fixar-se em 5,1 por cento em 2023, antes de descer para menos de três por cento em 2024, prevê o Governo no Programa de Estabilidade (PE) que esta segunda-feira foi apresentado.

Com as taxas Euribor em alta, também as prestações das casas vão continuar a subir, uma situação que as famílias estão a ter dificuldade de acomodar nos orçamentos familiares.

“Por várias razões, entre as quais as mais importantes são a insuficiência da poupança privada, a pressão específica nos mercados do imobiliário e também pelas dificuldades acrescidas da inflação de rubricas como a alimentação”, sublinha Paulo Reis Mourão.

 

 

 

 

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