Macedo de Cavaleiros

Olivicultores pedem mais apoios para o olival tradicional depois de um ano “muito mau” com quebras de mais de 60%

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2023-04-27 12:47

Os olivicultores transmontanos pedem “mais apoios ao olival tradicional” depois de um ano “muito mau” para a produção de azeite, que teve quebras superiores a 60 por cento, e numa altura em que se espera novo ano de dificuldades devido à falta de chuva na região.

Preocupações expressas na passada sexta-feira, no encontro de cooperativas de azeite que decorreu em Macedo de Cavaleiros.

“Entendemos que o olival no Alentejo, pela sua alta rentabilidade, os apoios que tem são suficientes e até poderão ser excedentários. Enquanto que os olivais aqui na zona, deveriam ver os apoios aumentados. O olival tradicional devia ter apoio, quer sobre a forma de agro-ambientais quer de outro tipo, de forma que o exercício da atividade agrícola tenha um rendimento, no mínimo, que cubra os custos. Neste momento isso acontece mas há três anos isso não acontecia”, frisou Aníbal Martins, Presidente do Conselho de Administração da Fenazeites (Federação de Cooperativas de Azeite) que, juntamente com a Confagri, organizou o encontro em Macedo.

O mesmo responsável frisou que “os problemas na região assentam, essencialmente, no exercício da atividade com os regulamentos e a burocracia que existe”.
“Depois, tem a ver com a própria estrutura do olival daqui da região. Mas quando comparamos com o olival no Alentejo, é de um extremo ao outro. É muito mais difícil ser olivicultor em Trás-os-Montes do que no Alentejo. Estes encontros vão no sentido de ajudar as pessoas a identificar os problemas que existem para que possamos, junto do poder político, exercer alguma pressão para os ultrapassar”, explicou.

Por isso, ”no olival, os apoios podiam ser mais diferenciados no sentido de apoiar mais o olival tradicional, que é o predominante da zona de Trás-os-Montes. Deviam ser melhorados os apoios agroambientais”.

“Ser olivicultor no Alentejo é profissão de luxo, em Trás-os-Montes é difícil”

Aníbal Martins considera que “hoje em dia, cativar jovens para a agricultura não é fácil”. “Logo à partida, a burocracia da atividade é de tal maneira que desincentiva os jovens a vir para a agricultura. Principalmente nesta zona. Ser agricultor no Alentejo é uma profissão de luxo, com olivais superintensivos e rendimentos brutais.
Agora, em Trás-os-Montes é muito difícil”, frisou.

Se no Alentejo o olival superintensivo tem um rendimento de 15 mil quilos de azeite por hectare, em Trás-os-Montes não chega aos mil quilos. Com um preço padrão de cinco euros por litro, o rendimento é muito díspar nestes dois pontos do país.

Luís Rodrigues, presidente da Cooperativa Agrícola de Macedo de Cavaleiros, aponta, ainda, como problemas a falta de condições para regadio na região e a avançada idade dos agricultores transmontanos.

“Em Trás-os-Montes há mais uma série de fatores que não influenciam nada. Para já, a idade dos agricultores, que não ajuda. A média de idades dos nossos 2000 sócios ultrapassa os 60 anos.

O problema é que viver só da agricultura numa região como a nossa, de minifúndio e parcelas reduzidas, os custos de produção duplicam ou triplicam face aos agricultores do Alentejo.

Esperemos que se inverta a tendência porque sem gente na terra, isto arde tudo. Quando os teimosos deixarem de ser agricultores, não sei se teremos paisagem para mostrar aos turistas”, frisou.

A somar a isso, os maus anos de produção afetam o ânimo dos agricultores.

“No ano passado, foi a pior produção dos últimos 20 anos. Foi terrível. Depois de dois anos excelentes, em que batemos recordes de produção, no ano passado foi para esquecer. Tivemos só 40 por cento da produção do ano anterior.

As condições climatéricas, com calor extremo e falta de chuva, foi o que mais afetou.

E este ano vamos ver, porque isto está a ficar complicado se não vier chuva. De certeza que não vamos ter uma ótima campanha. Esperemos é que seja melhor do que no ano passado”, disse.

Já Hélder Teixeira, Presidente da Cooperativa de olivicultores de Vila Flor e Ansiães também fala numa quebra de 63 por cento em 2022. “No ano passado tivemos cerca de 37 por cento de uma produção normal. Tivemos 190 mil litros de azeite quando, normalmente, temos 500 mil. Foi um ano muito mau, com muitos problemas no olival, que sentiu muito a seca. A floração foi muito má, a falta de água foi um problema enorme, o que fez um ano péssimo. Ainda por cima, na altura da colheita, tivemos muita chuva”, explicou.

Com menos azeite no mercado e a guerra na Ucrânia, os preços subiram para cerca de oito euros, o que pode afastar consumidores. “Esta campanha está a ser prejudicada pela falta de água nestes dois ou três últimos meses. Por isso, a floração vai ser retardada porque estamos a ficar com falta de água no solo. Vamos ver como o vingamento do fruto vai acontecer mas estou preocupado com esta nova campanha.

Como não houve crescimentos no ano passado, haverá menos flores e menos frutos.

Não havendo azeite, o preço sobe, o consumidor afasta-se e podemos vir a ter grandes problemas no futuro porque quando tivermos grandes produções não temos clientes”, sentencia. Por isso, pede mais agilidade na construção de reservatórios de água, como charcas ou barragens.

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