Riscos ambientais propiciam mais o aparecimento do cancro do que os fatores genéticos
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A prevenção do cancro é possível, mudando estilos de vida. Esta foi uma das principais mensagens transmitidas pelos especialistas que participaram na sessão ‘Cancro e riscos ambientais: poluição, radiação, sol, fumo passivo e contaminantes profissionais’, em debate na iniciativa “Tratar o Cancro por Tu”, promovida pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), que teve lugar Instituto Politécnico de Bragança (IPB), na passada quinta-feira.
O diagnóstico precoce é muito importante para ganhar tempo e tratar mais cedo, nomeadamente com a realização de exames médicos regulares, rastreios e autoanálise corporal. “Estima-se que 40% dos cancros possam ser prevenidos. O que passa por evitar exposições perigosas, das quais o tabaco está à cabeça e está associado direta ou indiretamente a 30% de todos os cancros. Há ainda outros fatores, como o álcool, estilo de vida, alimentação, sedentarismo, poluição atmosférica, águas contaminadas. Estas duas útimas são mais difícil de gerir, mas têm efeitos de menor magnitude e são controláveis, porque são do âmbito da saúde pública (como a água contaminada e a poluição)”, enumerou José Carlos Machado sublinhando “que a genética contribui pouquíssimo para o cancro”. Só 3% dos cancros são hereditários. “O ambiente é claramente mais importante do que a genética”, acrescentou o vice-presidente do Ipatimup.
A sessão do IPB contou com mais de 270 participantes na assistência para ouvir o patologista e diretor do Ipatimup, Manuel Sobrinho Simões, e outros especialistas convidados como José Carlos Machado e Nuno Teixeira Marcos e também Bebiana Conde. “O objetivo é desmistificar conceitos e algumas ideias, às vezes, até erradas que as pessoas têm. No fundo contribuir para que as pessoas percebam melhor esta doença, que é muito comum, e que, provavelmente, nos vai afetar a praticamente todos ao longo da vida. Felizmente para a maior parte de nós será uma doença não tão grave como se pensa. É tratável. Esta é uma das ideias que queremos esclarecer porque as pessoas pensam que é uma espécie de sentença de morte. Às vezes é, infelizmente, mas não é na maior parte das vezes”, explicou José Carlos Machado, vice-presidente do Ipatimup.
A iniciativa tem como principal objetivo aproximar a ciência da população, promovendo a literacia em oncologia através da partilha de conhecimento sobre fatores de risco, prevenção e abordagens terapêuticas inovadoras. “Ainda há algum preconceito e receio de se falar no assunto. Quando morre alguma figura pública, ainda agora, os media falam de doença prolongada e não de cancro. Continua-se a fugir à palavra. É preciso mudar isso”, acrescentou o responsável.
O ciclo de conferências ‘Tratar o Cancro por tu’, vai decorrer até dia 3 de abril, passando também por Matosinhos, Aveiro, Setúbal, Viseu e Ponta Delgada.
Desde o início, há quatros anos, a iniciativa já percorreu dez cidades e envolveu mais de 2.200 participantes em 18 sessões.