A opinião de ...

Dias Cinzentos

Há tempos assim.
Há alturas em que parece que tudo o que acontece nos entristece.
 
É triste presenciar o que a comunicação social pode fazer a alguém cujo “defeito” evidente é, imagine-se, “ter má imprensa”. Não vi ainda ninguém dizer claramente qual o erro, qual o defeito, qual a falta que o atual líder socialista tem que o desclassificam para líder partidário, ou para líder governativo. Nem em termos absolutos nem em termos relativos, se cotejado com os atuais detentores do poder. “Não convence” diz a comunicação social que em vez de assumir o seu papel de vox populi se arroga antes em feitora de lideranças muito certa do seu papel nessa matéria, desde que um dos seus célebres representantes garantiu ser capaz de “vender” um presidente como quem vende um sabonete. Nem sequer ninguém conseguiu ainda demonstrar, inequivocamente, que o candidato interno é melhor do que o atual detentor do cargo. Talvez seja por “ter boa imprensa” e apesar das suas hesitações em contraponto à determinação, vontade e espírito de sacrifício e porque entendeu que o momento lhe era propício nem precise de qualquer proposta concreta ou teórica, idêntica ou diversa.
Mas o outro lado da barricada ainda me entristece mais.
É triste ver uma formação política que quer liderar o país e os portugueses e que se alegra não com um possível reconhecimento dos seus eleitores mas celebra sim, em vez de uma vitória própria, uma vitória alheia só por ser escassa.
É triste ver um conjunto de dirigentes partidários que nos haviam garantido resolver fácil e linearmente, os problemas que assolaram os concidadãos, e cujo contentamento atual, estranhamente, se prende essencialmente com as guerras intestinas em que o seu principal oponente se enredou.
É muito triste perceber que o que mais motiva o meu partido de sempre não é fazer o melhor possível para o futuro comum, mas garantir que do lado oposto quem se propõe substituí-lo não consegue convencer que é capaz de fazer melhor.
É mesmo muito triste verificar que o sentido de estado de alguns dirigentes partidários não resiste à sua ambição e carreira pessoal. Não é entendível este foco na liderança do principal partido da oposição e muito menos com a capacidade mobilizadora do eleitorado (ou falta dela).
Não há terceira alternativa. Se no PSD há a firme e sólida convicção que a melhor solução é a que apresentam ao eleitorado então devem deixar que os partidos da oposição façam o seu caminho e não se entende que a chamem a terreiro, a propósito de tudo e de nada. Mas se, pelo contrário, há o receio que no PS possa surgir uma solução mobilizadora então o sentido de estado, o dever do serviço público (que tanto proclamam e reclamam) só pode levá-los a uma única atitude: deixar que quem possa eventualmente solucionar a crise profunda em que o país se encontra, tome as rédeas do poder nas mãos e exerça o poder em benefício público.
A terceira alternativa se existisse, apenas demonstraria incerteza e falta de confiança própria. O que não é nada bom. Nem ajuda nada em disputas eleitorais.
Na situação em que nos encontramos há um luxo a que não nos podemos permitir: ter de escolher entre a menos má das soluções de futuro. A única opção que as circunstâncias exigem é pedir aos portugueses que, logo que seja possível escolham a melhor das soluções possíveis.
 

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