A opinião de ...

Legenda para a Pobreza

Um ex-autarca faz gala de dizer, afirmar, insistir e repetir que saiu da autarquia mais pobre que entrou.
 
Já o tinha dito em sessão da Assembleia Municipal, tinha-o repetido na última campanha autárquica e continua a declará-lo sempre que tal se proporciona. Esta afirmação, só por si, é grave (como a seguir vou demonstrar) e carece de devida justificação ou explicação. A menos que haja algum objetivo escondido que não consigo alcançar.
Mas qual poderá ser o objetivo de alguém que durante anos e anos ocupou o melhor cargo público do concelho, com direito a viatura e motorista, ajudas de custo e despesas de representação suportadas pelo orçamento municipal, com acesso a casa de habitação em circustâncias substancialmente mais favoráveis que o resto dos seus conterrâneos, que o leve a vir garantir, insistentemente, que não conseguiu, durante todo esse tempo, melhorar a sua situação patrimonial?
Será que não soube gerir os rendimentos disponíveis?
Se não foi capaz de gerir o que é seu, como pode continuar a arrogar-se de gestor de eleição, superior a todos os que lhe disputaram o lugar? Que visão estratégica é essa, de que tanto faz alarde, que não lhe permitiu rentabilizar todos os meios e circunstâncias que o melhor lugar autárquico lhe proporcionou?
Será que acha que o seu pacote salarial era demasiado baixo?
Se acha que ganhava mal o que dirão todos os restantes funcionários da autarquia com salários substancialmente inferiores e sem nenhuma das regalias que justa e legalmente são atribuídas ao Presidente da Câmara?
Quererá insinuar que foi a honestidade, que reclama, que o empurrou para este decréscimo patrimonial?
Não acredito! Seria demasiado insensato, despropositado e injusto. No mínimo!
Seria indexar a honestidade à pobreza, o que é completamente falso! É possível ser honesto e melhorar o nível de vida. Centenas de munícipes seus conterrâneos assim o demonstram todos os dias. Ser honesto não é, nem pode ser, sinónimo de ser pobre. Há, felizmente, muita gente honesta que vive bem. Alguns com salários  inferiores ao do Presidente da Câmara!
Seria lançar um anátema sobre todos os outros Presidentes de Câmara que viram o seu pecúlio aumentar, naturalmente, durante os seus mandatos! Não é aceitável a associação mesmo que apenas em insinuação entre desonestidade e melhoria do nível de vida de qualquer agente público!
Todos os que têm salário menor, que pagam renda de casa ou o empréstimo para a sua construção ou aquisição, que compraram por meios próprios carro que abastecem e mantêm e que suportam todas as outras despesas correntes, não podem ver a sua presunção de honestidade minimamente questionada... só porque alguém com melhores condições resolve garantir que a honestidade lhe não permitiu ajustar as despesas próprias ao orçamento familiar disponível!
Será (talvez) uma confissão (tardia) da sua incapacidade de gestão dos recursos disponíveis e assim justificar a grave situação financeira em que deixou o Município?
Se outra explicação existe seria bom sabê-la. Os longos anos que os seus conterrâneos lhe proporcionaram à frente da principal instituição concelhia assim lho exigem. Que este facto não é normal, prova-o o próprio protagonista ao repeti-lo em vários locais a propósito e despropósito. Se fosse normal e autoexplicativo não carecia de tantas proclamações e afirmações. Dizia-o uma vez e pronto!
Espera-se que esta afirmação, na próxima vez que venha a terreiro, esteja justificada ou, pelo menos, “legendada”!

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