Manuel António Gouveia

O pedreiro e a parede

Não há muito tempo, contratei um pedreiro, que se tinha como mestre, para reparar uma parede. Ao ir derrubando a parte que se encontrava pior, mais e mais ficava admirado com o que via. Para ele aquela parede tinha sido feita por um marreta. E não se cansava de desfazer dele que – dizia – tinha muito que aprender para exercer aquele ofício.


As últimas eleições

No passado dia trinta de janeiro, deste ano da graça de 2022, decorreram, então, as últimas eleições legislativas.
Já falei aqui sobre a razão dessas eleições: a dissolução da Assembleia, na sequência do chumbo do orçamento apresentado pelo Governo para o ano de 2022.


O Feliciano

Era uma vez o Feliciano. Filho de um pequeno e perdido lugar nas arribas do alto Sabor, a casa onde nasceu era um buraco semiescuro – térreo, de telha-vã, de onde o fumo se escoava através de uma bueira que também deixava entrar: a chuva, o vento, a coada luz do dia e a neve.
Mal nasceu, o Feliciano foi embrulhado num avental esburacado de uma avó e posto num caixote de sabão, ao pé da lareira, ali ficando sozinho, durante largas horas, enquanto os pais vergavam ao peso do trabalho.


A competição

A competição é uma atitude voluntariamente assumida por dois ou mais contendores que, conforme o teor, a abrangência e o valor da contenda, assim vai revelando os caminhos que percorre e traduzindo diferentes resultados que poderei sintetizar em três categorias: inofensivos (há uma competição natural que parece não prejudicar ninguém); graves e muito graves. Estes são de tal ordem, que avassalam a Humanidade, e poderão contribuir, para, nalguns casos, fazê-la desaparecer, pela sua força, ameaça e determinação em destruir o Planeta que a suporta.


A árvore solitária

Era a única árvore no cimo do monte: grande, frondosa, magnífica, algo arrogante, enquanto acolhia de bom grado quantas aves a procuravam para nela fazerem os ninhos, criarem os filhos, entoarem alegres canções, acompanharem o balouçar dos ramos embalados pelo vento, enquanto davam a saber que ali havia vida e alegria. Debaixo dela, à sombra, descansavam coelhos, lebres, perdizes… e, de onde em onde, alguma estonteada e cambaleante raposa que, perseguida pelo sol abrasador, ali descansava e adormecia até retomar forças.


As Autárquicas 2021

Porque as eleições autárquicas de 26 de setembro passado, deste ano de 2021, evidenciaram algumas surpresas, não deixam de merecer-me algumas considerações.
A primeira nota a assinalar foi, como temos vindo a constatar, de eleições para eleições, a forte abstenção do eleitorado, apesar do apelo ao voto vindo de todos os quadrantes, com a relevância que lhe foi dada pelo senhor Presidente da República.
Depois, é de assinalar a forma como as eleições decorreram: sem incidentes graves a registar, como é apanágio do povo português.


Assinaturas MDB