Manuel António Gouveia

Olhar o Futuro

Tenho um amigo que sempre se considerou bem-falante; e, por isso, nunca se eximiu a manifestar orgulho por si próprio. Quando os ditos desse meu amigo começaram a andar de boca em boca, todos achámos por bem trata-lo como um bom pensador – contudo, um bom pensador que sabíamos endividado.


A Festa da Cereja

I - Canção para a cerejeira

Olha a cerejeira
De verde vestida.
- Olá, cerejeira!
Poema de vida!

Olha a cerejeira
Coberta de flor.
Vai dar-me um raminho
Para o meu amor.

Olha a cerejeira.
- Cerejas vermelhas!
Vai dar-me um brinquinho
Pra pôr nas orelhas.

- Adeus, cerejeira,
Que me vou embora.
Nem na despedida
Mais triste se chora.

II - A Cereja


O sofrimento humano

nfelizmente, continuamos a ver na televisão a destruição que dia a dia acontece como resultado duma guerra que, lá muito longe, parece não ter fim. E, enquanto somos testemunhas dessa destruição, também o somos de pessoas que choram por causa dessa guerra – ou porque lhe mataram um membro da família, ou porque lhe destruíram a casa onde passaram toda a vida, ou porque foram feridas por algum projétil, ou porque lhes foi cortada a esperança de viver, ou mesmo por causa de tudo o que ficou dito.


Aquela organização

Era uma vez um grupo de amigos da onça que, como castigo pelos muitos desacatos que haviam provocado, um dia foram obrigados a juntar-se à sombra dum grande caramanchão, com outros que também eram “amigos” entre eles, para ali receberem ensinamentos que os levassem a corrigir os seus graves defeitos. Semanalmente, todos recebiam uma pequena remuneração. E, de ano a ano, havia promoções para quem o mandante que os orientava entendesse, e também conforme os resultados e o interesse manifestado individualmente.


A Fraternidade Humana

Celebrou-se, no passado dia quatro de fevereiro, o Dia Internacional da Fraternidade Humana, um dia dedicado à reflexão sobre a pobreza e a miséria em que vivem milhões de pessoas que, por isso mesmo, sentem necessidade de ser ajudadas, de forma a terem uma vida digna, nos vários aspetos que essa vida requer.


A grande manifestação

Há cerca de quinze dias, um mar de professores convocados por nove sindicatos participou num desfile monumental que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Este mar de gente (também houve quem desfilasse apoiando a luta dos professores), começou na rotunda do Marquês e acabou no Terreiro do Paço.
De facto, tratou-se de uma marcha de protesto na qual, a par de inúmeros cartazes transportados por esta multidão, um deles sobressaia pela mensagem que transmitia. Era um cartaz com uma única palavra: RESPEITO!


Formas de dizer

Já lá vão muitos anos, mas nunca me esqueci deste diálogo que a minha professora do ensino primário nos fez saber – exemplo que vinha no livro e nele confirmava a regra da pontuação:
“- Que horas são?
- Onze e dez.
- Certas?
- Em ponto!”


O passeio do senhor Henrique

O senhor Henrique, com o seu metro e setenta de altura, o seu discreto bigode e um penteado clássico, é notado pela elegância, o bom gosto no vestir e a leveza no caminhar.
Tido como um homem bom é, de facto, uma pessoa calma, aconselha quem lhe pede uma opinião, e como grande conversador, não raro se encontra à volta de uma mesa, rodeado de amigos, saboreando o seu café.


Soaram os alarmes

Há muito tempo que soaram os alarmes, e há muito tempo que tanta gente os não ouviu soar – o que é trágico!
O não ouvir soar os alarmes é, primeiramente, ter-se o ouvido muito duro; depois, mesmo que o ouvido não acuse dureza, o não ouvir os alarmes é sinal de indiferença, despreocupação, falta de visão, falta de iniciativa, de coragem e de estratégia de defesa.


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