Miranda do Douro

As raças autóctones em Portugal são um património genético muito ameaçado

Publicado por FP em Qui, 2023-09-07 10:02

As raças autóctones em Portugal estão em risco de extinção, num total de 66 de pecuária a que se juntam mais 12 raças de cães, uma situação que se torna preocupante para a preservação deste património genético e cultural.

“Todas estas raças que vão desde ovinos, caprinos, bovinos, burros ou cães terão de ser muito bem geridas e apoiadas, por que estão seriamente ameaçadas disse Pedro Vieira, técnico da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), durante Encontro Ibérico de Raças Autóctones que decorreu em Miranda do Douro, na passada terça-feira.

Segundo o técnico da DGAV há casos de raças autóctones de bovinos ou porcos existentes no sul do país onde há apenas 20 exemplares no efetivo, o que só por si, é uma preocupação.

Para o responsável a falta de rendimento de algumas raças autóctones levam à diminuição do efetivo pecuário face a outras raças mais produtivas e que trazem mais rendimento aos produtores.

Contudo, há raças que se estão a aguentar como é o caso da raça de bovinos mirandeses que se destacam pela qualidade da sua carne e ainda vão sendo rentáveis.
“Ainda que haja alguma preocupação com a criação desta raça e outras similares como a barrosã, ainda se consegue encontrar algum rendimento, apesar do efetivo também estar a diminuir”,vincou Pedro Vieira.

Por outro lado, as alterações climáticas que se estão a verificar, também não beneficiam os efetivos das raças autóctones, já que não se consegue produzir carne para satisfazer o mercado.

“Se éramos um país deficitário no que toca à produção de carne de bovino, ovino e caprinos, com as alterações climáticas, penso que estamos a ser muito prejudicados. É importante criar apoios para a manutenção destas raças para evitar a entrada de raças com maiores índices produtivos”, frisou.

Apoios às raças autóctone cestão devidos por dois níveis: o A e o B sendo que no nível A, ronda os 160 euros por vaca (raças pouco ameaçadas) e no nível seguinte o prémio à manutenção é de 250 euros, no caso de raças muito ameaçadas de extinção.

Na opinião de Pedro Vieira para se fazer a manutenção destas raças é importante realizar ações de sensibilização junto dos produtores e gado para discutir o tipo de apoios à manutenção do efetivo e criar alternativas no setor pecuário mais tradicional.

“Para além da aptidão natural de produção de carne, leite ou lã, as raças autóctones têm um importante valor turístico, porque são orientados para os regimes ecológicos se estabelecem”, rematou o técnico da DGAV, que tem a seu cargo o ‘dossier’ das raças autóctones em Portugal.

Por seu lado, Miguel Nóvoa, secretario técnico da Associação para o Estudo do Gado asinino (AEPGA), referiu que a raça do burro mirandês tem se mostrado “estável”, como cerca de uma centena de novos nascimentos por ano, sendo que o burro de Miranda está assim contribuir para a gestão da paisagem transmontana.

“Em nossa opinião, quer os burros, quer outras raças autóctones de bovinos, ovinos e caprinos têm um papel fundamental nas gestão dos combustíveis, com a finalidade de ajudar a travar o avanço dos incêndios florestais e de mato.

Os burros já não são utilizados como antigamente para a tração animal ou transporte de carga, podem ter novas utilizações como é caso da função de sapador florestal, sendo esta uma das mais importantes, salientou o responsável pela AEPGA.

O papel das raças autóctones no setor do turismo de natureza é cada vez mais importante, sendo elementos importantes para a preservação da biodiversidade das regiões onde estão inseridos.

O uso terapêutico dos burros é outro dos nichos de mercado que terão de ser aproveitados.

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