A opinião de ...

Caça ao turista Charrela

A cobiçada e raríssima perdiz charrela povoou os montes, serras, vales e restolhos do Nordeste transmontano provocando eflúvios cinegéticos de caçadores experimentados e conhecedores da sua astúcia em se tornar invisível, daí só os possuidores de olhos de lince e rápido gatilho conseguiam diferenciarem um nódulo alaranjado de flores dessa cor a permitirem à famosa peça de caça esconder-se tão bem quanto os guerrilheiros vietnamitas ou camaleões políticos de alto coturno. Escrevo no passado, porque as charrelas tal como os turistas do Titanic primam pela discrição só sendo identificados quando surgem imprevistos de relevo.
Pois bem, apesar de os turistas charrela estarem confinados aos seus castelos, mansões e propriedades cercadas por muros e vedações temos notícias que nos concelhos do distrito de Bragança decisores de vários quilates pensam (sonham em voz alta) que tudo regressará à placidez de outrora, daí os projectos de caça a tais turistas, dado que os turistas de aviário (entenda-se nacionais) não possuem o mesmo poder de gasto, os Manuais de economia da indústria turística avaliam entre 30 e 35% os gastos dos charrela em alojamento e alimentação no cômputo geral de cada viagem ou deslocação.
Sem curarem de saber como se irá processar e em quanto tempo o regresso à normalidade à escala mundial vou lendo que, há a intenção de serem levados a efeito do estilo – cocktail de montanha ou uma ponte pedonal «a maior do Mundo» a unir as duas margens do rio Douro, entre o concelho de Moncorvo e Foz Côa. Acerca do refulgente cocktail já escrevi, no entanto, confesso a minha falta, sendo colaborador da Associação de Barmans, não a informei porque a revista deixou de se publicar. No tocante a ponte pedonal (tinha de ser a maior do Mundo, como um moncorvense apelidou um vinho daí como sendo o melhor do Planeta) não sei se o cérebro da ideia pensou na ponte entre Copenhaga e Estocolmo, mas que revelou audácia lá isso revelou. Só que a audácia pode ser exequível ou não, sólida quanto é a serra do Reboredo ou susceptível de fragilidades as suas galerias mineiras.
Eu sei, nós sabemos, quão rentes se avizinham as eleições autárquicas, não sei se o tratamento tu cá, tu lá ganhou combustão de um qualquer ismo ideológico ou ecuménico, sei que imaginar não custa, custa é pagarmos visões sustentadas em charrelas fugidias, desconfiadas e alvo de mil atenções antes de chegarem às gravuras. Além disso os arqueólogos não gostam de ajuntamentos!

PS. Adérito Lhano foi exímio caçador de turistas charrela em Espanha. Nem o poderoso ministro Solbes escapou. O Adérito Lhano merecia, merece, ser ouvido pelos próceres do Turismo.

Edição
3807

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