A opinião de ...

Sem cara de póker

No tempo em que jogava póker aberto (sintético) no Clube de Bragança não conhecia (como desconhecia muitas outras coisas atinentes a tudo em geral e ao sisudo jogo em particular) a expressão cara de póker, até estou convicto de nenhum dos parceiros habituais (não revelo os nomes no fito de não ferir susceptibilidades familiares) a alguma vez a tivesse ouvido, muito menos empregue. Naqueles anos sessenta do século passado os jogadores no e do Clube eram atreitos a explosões de ira quando as malvadas cartas não dobravam e desbaratavam as caves dos apostadores.
A pandemia rebentou acidulamente no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Bragança e, por todas as razões e mais algumas, expresso ao Dr. Eleutério Alves na qualidade de Provedor daquela Instituição e ao Dr. Hernâni Dias enquanto máximo representante do povo bragançano, o meu pesar ante a tragédia que nele, Lar de amparo a humilhados, ofendidos e doentes está a ocorrer. E, embora ao longo de um período em que observei extraordinários jogadores de póker peritos no afivelar de máscaras de impassibilidade, fiquei surpreendido como o Dr. Hernâni Dias conseguiu dominar a dor e revolta interior ao enunciar a ceifa da Senhora da gadanha no reduto de das obras de misericórdia da cidade.
Se o avanço do vírus em terras transmontanas aferroa o meu medo obrigando-me a praticar a cara de póquer no enfrentar o desgosto de não poder estar e estreitar abraços com familiares e amigos, de usar permanentemente a máscara tal qual o desditoso nobre francês usava um nariz de sola dado um rato lhe ter roído o apêndice nasal.
O ambiente está, infelizmente, propício à expansão dos semblantes carregados, sombrios, de noite cerrada, de cara de póquer dado o avolumar de incertezas para as pessoas a ultrapassarem os setenta anos, os rostos mimosos de todos quantos conseguiam fugir às inclemências e caprichos dos três meses de inferno e nove meses de inverno (os ortodoxos fundamentalistas climatéricos deviam pensar no anexim) passaram a sofrer as inclemências do surto epidémico nas suas várias componentes – mentais, emocionais, afectivas, materiais – transformando as caras em carantonhas a fugirem do espelho a tremerem como Mefistófeles tremeu. Porém, talvez no intuito de distender as caras de póker, um Senhor a viver na cidade do Braganção deu a conhecer a peregrina intenção de criar um cocktail de montanha cuja finalidade suprema é atrair turistas. Sendo assim, e não é, os filhos do Tio Sam (pátria da bebida) vão correr esbaforidos até à Praça do Seixo, ou Almeida Garrett (em Bragança), no fito de estabelecerem conversa com o bartender, as diferenças entre um cocktail de montanha e três clássicos muito conhecidos na snob Boston, o Afther Dinner Spcoal, o Alfonso Special e o Alexander, embora acredite que os americanos quando demandam Bragança prefiram presunto e salpicões de porco bísaro, alheiras, repolgas e trutas do Baceiro. Não sei quando a pandemia vai desaparecer, no entanto, logo que possa ir a Bragança liberto de cautelas e dúvidas vou beber um cocktail montanhoso, depois telefonarei ao meu ex-cunhado Joe antigo bartender em exclusivos bares de Providence e Boston onde ganhou reputação de especialista nesse género de bebidas a dar-lhe a minha opinião relativamente ao bebido. Agora, sem ironias, os turistas de cá, de lá e pelo caminho podem e devem visitar o nosso terrunho tendo como referência o nosso património imaterial e material, culinário e gastronómico, genuíno, deixando-nos de lorpices ridículas que só nos colocam no reino dos asnos de lérias petulantes. É de rir a bandeiras desfraldadas. Um descoco! Sem réstias de cara de póquer fechado ou aberto!

PS. Um alfaiate de Argana com uma fita métrica mediu o globo chegando à conclusão de esta aldeia ser o centro do Mundo

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3803

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