A opinião de ...

Uniformidade e Singularidades

As Feiras cujo elemento principal é o fumeiro animam a província transmontana. A seguir surgem outras dedicadas ao azeite, ao folar, aos cordeiros, aos cabritos, às vitelas com e sem posta, às cerejas, às melancias, às abóboras, às nozes e por aí adiante. É uma fartura e outras virão.
As Feiras trazem apreciadores dos produtos e ainda concitam visitantes. Digo ainda porque as Feiras acusam a velhice da uniformidade embora se possam apontar exemplos de não serem iguais. Parecem desiguais, no entanto, na matricialidade do esqueleto são semelhantes.
Esta uniformidade não é exclusiva das Feiras, vamos encontra-la nas ementas dos restaurantes (como um ou outro rodriguinho), nas casas de comeres, nos bares e tutti-quanti. A uniformidade pode esconder-se debaixo de camadas de verniz, de relâmpagos culinários, de noite disto ou daquilo, não obstante é uniforme, repetitiva, igual, sem centelha de inovação, quanto mais criatividade. Se analisarmos as listas de comeres dos restaurantes percebem quão grande é o referido mimetismo.
Os criativos dotados de conhecimentos e especialistas na antecipação do futuro já fizeram soar as campainhas de alarme porque os amantes da diversidade, os gastrónomos turistas, os líderes de opinião estão a ficar cansados da referida uniformidade preferindo a singularidade. Sendo assim e é, veja-se o crescimento turístico ocorrido no ano passado em Portugal (embora a segurança das pessoas e amenidade do clima muito contribuíram para tal), os decisores e programadores das Feiras deviam conferir quantos momentos miméticos se têm sucedido e após serena reflexão pensarem nas singularidades existentes em cada localidade, retirarem da obscuridade ou do alçapão do esquecimento muitas outras e as exaltarem convenientemente.
Há anos gozei dias planturosos a apreciar pitanças (termo em desuso, evocador das referidas singularidades) debaixo da égide da Cozinha Artística. Pois bem, o Festival dedicado à arte de colocar comeres no prato não teve mais de duas edições, logo mudou de tema e de ano para ano consegue surpreender de modo inusitado.
Prefiro não nomear nenhum dos que conheço a mudarem de estilo e a conceberem novos conteúdos apesar das resistências e embirrações contra a singularidade inovadora. A imobilidade, o acomodamento, as ciumeiras, os interesses instalados são tremendos obstáculos à mudança (sei bem sobre o que estou a escrever), porém os responsáveis têm de resistir às pressões, têm de saírem da caixa uniforme, burocrática, generalizadora.
Estamos sempre a recordar as particularidades do «reino maravilhoso», gastamos energias a soletrar o jargão da transmontanidade, só que quando chega a altura de as salientarmos optamos pelo copianço em detrimento.
Será fácil adivinhar onde se encontram os tesouros, difícil tem sido trazê-los à superfície. Imitar as Feiras dos outros custa menos. Sou defensor da visita dos certames levados a efeito cá dentro e de lá fora, ver e tomar nota do observado no intuito de corrigir desacertos, sem esquecer as respectivas programações. Já estou em desacordo quando o visto é revisto dentro do cromático local e apresentado como novidade. As pessoas agora viajam muito, por isso não tardam a descobrir o engano e seguirem o exemplo do menino gritando: o rei vai nu.

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3613

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