A opinião de ...

O leilão dos presidenciáveis e o «sacrifício» autárquico

A um ano das eleições presidenciais já se conhecem alguns candidatos e os que não se conhecem estão ou em leilão ou em maturação. A primeira situação acontece no PS, partido que, quando na oposição, se fragmenta todo como que em processo terápico das dissensões e intra-vinganças do tempo ou de Poder Nacional ou de Poder Autárquico.
Alguns proto-candidatos a Presidente da República suicidam-se com as suas declarações fratricidas. Merece realce a reacção figadal-biliar de Augusto Santos Silva contra António José Seguro ao mesmo tempo que solicitava a António Vitorino que o fizesse candidato. Antes, o Secretário-Geral do Partido precipitou-se lançando António José Seguro sem ouvir ninguém. As fações sublevaram-se e o Partido parece incapaz de apoiar um candidato.
O Povo Português que, desde Craveiro Lopes, indicou preferir um candidato de fora dos partidos para gerir as (des)orquestrações intra e interpartidárias, parece, mais uma vez, inclinar-se para um protocandidato militar. Protesto contra os partidos? Em parte. Mas a instituição militar é uma bela escola de estratégia e de política. Além disso, o mesmo Povo, desta vez, parece preferir o silêncio do recato à exposição das televisões. Pode ser feliz o Almirante Gouveia e Melo.
O PSD parece não ter os problemas do PS. Marques Mendes não é o melhor candidato mas, por agora, sossega os crentes e contém os concorrentes.
Exposta a questão presidencial, dediquemos algumas palavras ao «sacrifício» das candidaturas autárquicas, já pelos problemas do financiamento das candidaturas já pelas ratoeiras político-administrativas do exercício dos poderes autárquicos, já ainda pelo «churrasco» que, constantemente, ameaça os autarcas já finalmente pelo corrupio de interesses que ali se entrecruzam.
É precisa coragem ou desejo de notoriedade para ser candidato a Presidente de Câmara. Pelas ratoeiras que o cargo encerra e pela carga de trabalhos que um serviço de proximidade implica. É muito mais fácil ser Primeiro-Ministro que Presidente de Câmara. Admiro portanto o arrojo da candidata Isabel Ferreira e do protocandidato Paulo Xavier. Pior que o Presidente de Câmara só o Presidente de Junta que, sem dinheiro, tem alguns-mesmos problemas que aquele.
A estrutura local do PSD está dividida entre o proto-candidato Paulo Xavier e João Rodrigues. Parece que a estrutura local prefere este mas, agora que o valor de Hernâni, na Distrital, está por baixo, a balança inclina-se para o último e terá de ser a estrutura nacional a decidir.
A já candidata Isabel Ferreira estreia-se na aventura autárquica depois das aventuras como Secretária de Estado e Deputada à AR. Tem capacidades para o exercício autárquico mas formar uma equipa competente e coesa e mobilizar um partido propenso à desavença e ao fratricídio não são tarefas fáceis. Isabel deixa uma carreira académica ao nível das melhores. Revela ou coragem ou ambição ou loucura ou endividamento político ou vontade de servir os outros ou ainda um pouco de todos. Tenho pena que deixe a Academia mas está no direito de experimentar outros tormentos. Que ainda não conhece.

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