Eleições locais (7). O «Juiz» decidiu. Está decidido.
O Juiz ou grande júri ou Povo Soberano votou e decidiu, no passado dia 12, a quem entregar a administração dos municípios e das freguesias. Os analistas interpretam agora a dinâmica dos resultados. Procuram causas e explicações. Não ambiciono tanto porque em todos os resultados há diversos factores que não é possível conhecer ou explicar e, muito menos, nacionalizar.
Nesta eleição, dada a pluralidade de candidaturas e coligações, parece-me fazer muito mais sentido falar de mandatos à Esquerda e mandatos à Direita. Isto porque me parece ilegítimo tirar a ilação que o Primeiro-Ministro tirou de que o PSD saiu vencedor. Ele juntou no PSD todas as coligações de que o PSD fez parte, e que são 10. A Direita, Chega incluído, obteve 1142 mandatos e a Esquerda apenas 902. Para efeitos estatísticos, o Chega obteve 137 dos mandatos da Direita. Os grupos independentes 135. O PSD, sozinho, obteve apernas 35,8% dos votos da Direita, e o PS, sozinho, 85% dos votos da Esquerda.
Façamos uma breve aproximação aos resultados nacionais, municipais e paroquiais (de freguesia).
A nível nacional, o PSD conquistou mais câmaras municipais (136) do que o PS (127). Conquistou sobretudo as câmaras dos concelhos mais populosos: Lisboa, Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia, Braga. Em sete concelhos, a vitória foi minoritária e tem de haver negociação na administração autárquica. Entre eles, Lisboa e Porto. De qualquer forma, o PSD tem algumas razões para sorrir: obteve mais votos, mais câmaras municipais, mais assembleias municipais e conquistou as câmaras dos municípios mais populosos. Direi ainda que a graça do Poder ou o Partido em estado de graça, que ainda é o PSD, e que o PS perdeu há dois anos e procura reencontrar com um líder que se vai consolidando e afirmando para o futuro, foi a base dos resultados eleitorais
Realce para dois outros objectos de análise: a permanência no Poder e o carisma de alguns candidatos. Em Oeiras, Isaltino Morais resiste ao tempo e aos votos do eleitorado. Considero-o o Salazar autárquico. Desafia a Lei da limitação de mandatos autárquicos.
Refiro ainda a sobrevivência do morto-vivo CDS, com 4 câmaras municipais.
Um elogio ao eleitorado, que se absteve menos (43,3%) do que há quatro anos.
Uma nota para a necessária revisão da lei eleitoral pois urge acabar com os eleitores-para-quedistas que, próximo das eleições, mudam de residência voltando a mudá-la depois do caderno eleitoral publicado.
A nível Distrital, não houve mudanças eleitorais significativas. A sociologia eleitoral manteve-se quase intacta em todos os distritos. Houve mudanças onde era expectável que elas acontecessem, mesmo a conquista de Albufeira pelo Chega e as perdas do PCP no Alentejo. Em Bragança, pode-se falar da derrota do PS em Macedo de Cavaleiros, coincidente com a sociologia política do Concelho, e da vitória do PS no concelho de Bragança, à revelia da sociologia do Concelho, o que afirma a qualidade da candidatura.
A nível municipal, foram muitos os concelhos onde houve mudanças eleitorais e a diferenciação entre eleitorado rural e urbano volta a fazer sentido embora muito menos do que há 50 anos. Realço, nesta análise, Porto, Bragança e Macedo de Cavaleiros. No Porto, Pedro Duarte ganhou com a graça do Poder do Governo. Em Bragança, Isabel Ferreira ganhou com a sua experiência, a sua competência e a sua moderação. Teve ainda a ajuda prestimosa da sua equipa e de vários históricos do Partido. Humberto Rocha e do Partido, e a falta de comparência do PSD que, há 12 anos, se não tem esmerado na qualidade das candidaturas. Também no Concelho de Bragança baixou a abstenção e houve o maior número de votos de sempre (20.926).
A lista encabeçada por Isabel Ferreira obteve a quarta maior votação de sempre (10.528 votos) no Concelho, mas a lista do PSD obteve também o maior número de votos de sempre entre todos os derrotados (8.668). O PSD foi o partido do mundo rural (4.396 votos contra 4.241 do PS, o que «fala» da urbanização progressiva do Concelho). O PS foi-o do mundo urbano (6.287 votos contra 4.272). O mundo rural deu quase tantos votantes a PS e PSD como o urbano: 8.637 versus 10.559. Mas há que considerar que Samil, Gostei, Gimonde, Donai e Castro de Avelãs são quase tanto urbanas como rurais.
Realce para as vitórias do PS nos cavaquistões Rabal, Rebordãos e Gostei pela qualidade das equipas candidatas.
Bom trabalho para todos, em prol dos munícipes e dos fregueses. Daqui a quatro anos, voltará a haver «festa». Se não for antes.