Ricardo Mota

Prendas de Natal…

O Sol vai baixo e os raios furam as nuvens frias e espessas que abundam, por esta altura, nesta banda, dá gosto observar, bem protegido por agasalhos convenientes, os vultos fantasmagóricos que costumam habitar estes céus. Os traços vermelho-fogo, à mistura com pinceladas de ardósia escura são majestáticos quadros colocados ao acaso nesta intemporal galeria.


Nó, em fim de linha…

Por ali, naquele sítio, de barulho intenso, vive a azáfama diária do boliço citadino, dos da cidade e dos viajantes que neste ponto se cruzam. O rio Tejo, exausto da caminhada, agachando-se sob a passagem da última ponte, na antevisão do aconchego do mar que o espera num afetuoso abraço de delta, com o farol do Bugio como testemunha, mostra-nos sempre a quietude, o sereno, a paz, e a feliz possibilidade do estender da vista.


Ao sabor dos ventos…

Por mais que tentemos procurar o presente no futuro, antecipando o que para aí vem, o relógio, sincrónico, nunca estará do nosso lado. Sabemos apenas que caminhamos eternamente para a mudança, se recuando ou em frente, juízo de cada. De sempre, mesmo depois da invenção da roda e da escrita, o cosmos puxa-nos, suga-nos, deixamo-nos ir sem resistência pois que algo nos diz que bem lá no centro está o gênesis, o começo, a ignição, o princípio e o fim, sendo o fim o íman do qual nunca escaparemos.


Palácio das Açafatas

Reza a História a infeliz história de uma menina de descendência real. Nos idos anos de 1638 nasce em Vila Viçosa Catarina Henriqueta filha de El-Rei D. João IV e de D. Luísa de Gusmão. Por morte do pai em 1656 a Regente, sua mãe, casa D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra. Nesse casamento em 1662, com apenas 24 anos, Catarina leva, como dote, os nossos Tânger e as ilhas de Bombaim.


Pesos & Medidas…

Todos sabemos que na soma de vários números a ordem das parcelas é arbitrária, isto é, não existe sequência obrigatória em adição, razão pela qual me sinto livre nos caminhos deste texto, imaginação como guia e musa, democracia e igualdade social como meta.


Advir…

O atrevimento leva-nos, algumas vezes, a deixar correr a mente nos trilhos do livre pensamento. Colocando de lado os defeitos de produção, fácil conceber que, à nascença, teremos todos um cérebro semelhante mais que preparado para receber a informação que aí vem. Ciente de que todos trazemos um estandardizado chip de sobrevivência, será a forma como armazenamos os estímulos do conhecimento que nos vão distinguir, individualizando o eu de cada um, feito de corpo, mente e alma.


Uma Agenda…

Na régua cimeira dos caixilhos dos quadros negros, de ardósia, das velhas Escolas Primárias do Estado Novo que povoaram Portugal, de Norte a Sul, existiam impercetíveis preguinhos, esquecidos, sem dar nas vistas. Estavam ali para um dia, nas datas estipuladas, nos tempos programados, emergirem da clandestinidade, para serem usados como penduradores, veríamos pela primeira vez, os famosos mapas: linhas de comboio, rios e atlas.


Lei da Vida...

Foi local de acolhimento, de quietude, de meditação. Fui lá, vezes sem conta, pelo fresco do nascer do dia. Chegava cedo, a rondar as sete, com o sol ainda por detrás dos picos das serranias. Estacionava o carro em cima do tojo ressequido pelo sufoco de Agosto, chão raso apropriado ao efeito, o pó acumulado camuflava os cintilares das cromagens e dos vidros protetores. Uma velha cadeira de praia, carcaça de alumínio e lona riscada multicor, foi companheira todas as vezes que por aqui demandei. Mas o livro, o propósito deste querer, variou ao sabor dos palpites, da curiosidade.


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