A opinião de ...

DO BUTELO E DA VERGONHA

A Câmara Municipal de Bragança desceu à capital para promover a semana do Butelo e das Casulas. No mais transmotano dos restaurantes alfacinhas, o Nobre, ao Campo Pequeno, pertinho da Casa de Trás-os-Montes foi servida lauta refeição a condizer com o evento. Membros do Governo, Deputados e outras individualidades transmontanas, tuteladas pela figura patriarcal de Adriano Moreira, fizeram do restaurante de entrecampos território nordestino.
Depois de servida a refeição tradicional, com o saber e mestria da nossa conterrânea Justa Nobre, tomou a palavra o Presidente da Academia das Ciências para, em tom coloquial, nos brindar com um discurso que enquanto nos enchia a alma (que o corpo estava já devidamente composto e acomodado) servia, ao mesmo tempo, de roteiro e chamariz, sobretudo para os vários membros da comunicação social presentes, para o evento que acontecerá em Bragança, de 22 a 24 do corrente mês de Janeiro.
Lembrando a todos os presentes que o nordeste tem a condição de portugalidade intacta, desde a fundação do reino, sendo dele parte integrante por nunca ter sido conquistado (“até ao Mondego é Portugal, o resto é conquista”, gracejou) e por isso detém privilégios de originalidade genuína, nomeadamente, entre outros, no campo da língua. Recordei de imediato as palavras de Guilherme de Oliveira Martins, em almoço recente que, a propósito do acordo ortográfico e da genuinidade linguística, referia que a pronúncia tradicional e popular do interior norte é a mais fiel à grafia, nomeadamente na forma como são expressados os “s”, os “z”, os “x” e os “ch”. Adriano Moreira garante que foi aqui que nasceu o português. E o mirandês, claro! Essa uma das nossas riquezas culturais e sinal identitário, único no país, por sermos, precisamente, a Terra de Duas Línguas.
Continuou a despertar o orgulho transmontano na maioria dos presentes e a curiosidade e interesse nos restantes convidados. Antes de sermos brindados com a apresentação de um interessante estudo sobre o Porco Bísaro, a qualidade da carcaça e da carne, elaborado por város especialistas do IPB e coordenado por Alexandrina Fernandes e Alfredo Teixeira da oferta de um belo exemplar com bonitas fotografias, de grande qualidade de castanheiros, da autoria de Maria Adelina Sousa, com textos do Presidente da Câmara, Hernani Dias e de Maria do Loreto, Adriano Moreira não resistiu ao ambiente familiar, partilhando uma recomendação de um familiar seu que lhe dizia: “Quando estiveres fora daqui, sobretudo se houver muita gente, não digas nunca que és transmontano!  Não há nenhuma necessidade de os envergonhar!”

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