Editorial - António Gonçalves Rodrigues

Perdas e danos

Ser transmontano não é defeito, muito menos feitio. Adriano Moreira pedia, com delicadeza, que não expressássemos muito alto a nossa ‘transmontaneidade’ [ndr.: não por estas palavras] porque os outros, quem ouvisse, podiam não ser e ficavam com vergonha.
Ao longo dos anos, os transmontanos foram sofrendo perdas, que se transformaram em danos prementes e permanentes.


Qual é mesmo a definição de loucura?

Corre, à boca pequena, que, certo dia, Einstein, definiu a loucura como a repetição da mesma ação esperando resultados diferentes. Assim como quem insiste em dar cabeçadas na parede esperando que, a certa altura, lhe passe a enxaqueca.
Neste território a que agora chamamos Portugal, já os romanos diziam que o povo que por cá vivia tinha o seu quê de loucura, que não se governava nem se deixava governar.


“Deixem-se de tretas”

Há 37 anos, uma personagem de Herman José cantava na televisão, a plenos pulmões, “deixem-se de tretas, força nas canetas”.
Na altura, o Esteves incentivava a Seleção Nacional de futebol, que participou nesse verão no Campeonato do Mundo, que por cá ficou famoso pelo caso Saltilho.


O trigo e o joio

A divulgação do relatório publicado esta semana sobre abusos sexuais na Igreja Católica tem sido olhado sobre diversos prismas mas resulta, acima de tudo, num passo em frente da própria Igreja.
No entanto, é preciso não embarcar num exercício de apedrejamento público da instituição, pois o que ressalta é que não se pode, em caso algum, tomar a parte, por mais pequena que ela seja, pelo todo.
Este relatório deve servir para uma reflexão da sociedade e própria Igreja sobre os mecanismos que existem ou não existem e devem ser criados para a proteção dos seus.


A ‘cousa’ e a causa pública

A causa pública passa pela defesa da ‘coisa’ [ou cousa, como se dizia por estas terras] pública, ou seja, aquilo que é de todos nós.
E, em muitos casos, não é isso que se vê por parte de quem é mandatado pelo povo para governar o todo em nome de todos.
Nesta edição, apontamos duas situações em que a coisa pública tem sido ‘esquecida’ [para ser simpático].


A perceção e a realidade

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.../
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer/
Porque eu sou do tamanho do que vejo/
E não, do tamanho da minha altura.../”
Este excerto do poema ‘Guardador de rebanhos’, de Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa) ilustra aquilo que vivemos diariamente no choque entre aquilo que vemos e a realidade tal como ela é.
Numa sociedade cada vez acelerada, em que o que acontece se sobrepõe à reflexão do ‘como acontece’, toma-nos, cada vez mais, os sentidos.


“A saúde não é um luxo, é para todos”

O Papa Francisco lembrou, esta semana, num encontro com a Federação Nacional de Técnicos de Radiologia, Reabilitação e Prevenção, que “a saúde não é um luxo, é para todos”.
Numa altura em que saltam à vista os arames por que está presa a saúde em Portugal, que é preciso enfrentar poderes instalados há décadas sob pena de perdermos uma das bases de um Estado de Direito Democrático.
A abertura de mais um curso de medicina, por exemplo, é um bom passo mas deve ser acompanhado de outros de forma a inverter o rumo dos acontecimentos.


A água, o capote e as sacudidelas

O caso envolvendo a nova (e, passado um dia, antiga) Secretária de Estado da Agricultura, deu ao Primeiro-Ministro a ideia peregrina de criar uma entidade, mais uma, que ficaria responsável por afzer o crivo das nomeações para o Governo.
O Presidente Marcelo, vendo, aqui, uma tentativa de o nosso Primeiro sacudir a água do capote, rapidamente chutou a medida para canto.


Sinais do novo ano

O ano de 2022 terminou com a sensação de grande trapalhada no Governo, o primeiro de maioria absoluta de António Costa, com as saídas de Secretários de Estado e do Ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.
Em todo o processo, ficou a ideia de que vários governantes meteram os pés pelas mãos, sobretudo ao convidar para Secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis sem perceber a forma como tinha deixado a TAP, uma empresa controlada pelo Estado, apenas alguns meses antes.
Se sabiam como Alexandra Reis tinha saído da TAP, o caso ultrapassa a questão de incompetência.


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