A opinião de ...

Pinturas de São Pedro de Sarracenos “Urge recuperar e estudar”

elos anos noventa, ao abrir o “Guia de Portugal de A a Z”, do Círculo de Leitores, recordo-me das imagens e da referência às tábuas do retábulo principal da Igreja matriz de São Pedro dos Sarracenos, Bragança. Das pinturas não se diz muito, aponta-se uma data provável [séc. XVI], uma descrição com adjetivação forte, mas comedida: quatro pinturas retabulares de vigoroso poder expressivo, incluídas na lista do património Brigantino mais importante.
O Padre Francisco Videira Pires no jornal Mensageiro de Bragança, na rúbrica “Panorâmica de Arte-Sacra no concelho de Bragança” [20/02/1964], por altura do V centenário da elevação de Bragança a cidade, debruçando-se sobre o património mais importante do concelho fala das “excelentes pinturas sobre madeira, de São Pedro de Sarracenos”, que há 59 anos ele já dizia: “urge recuperar e estudar”. Acrescentava ainda: “quatro excelentes pequenas tábuas do século XVI, que por falta de ajuda superior, não cheguei a estudar convenientemente”. E, volvidas quase seis décadas ainda não estão estudadas, preservadas, ou recuperadas, mas mantem-se as palavras de Videira Pires: estas são “indiscutivelmente valiosas e, inteiramente desconhecidas”.
Videira Pires, responsável da Comissão Diocesana de Arte-Sacra, na altura deslocou-se a Viseu, a Lamego, a São João de Tarouca, para estudar comparativamente os quadros, como ele diz, “à cata de possíveis relações”. Continua o investigador: “João Almeida à altura Diretor Geral do Ensino Superior e Belas Artes, pelas fotografias disse: mas têm disto em Bragança?” Dez anos mais tarde, Russel Cortez, Diretor do Museu Grão Vasco, influenciado por um artigo de Videira Pires, no órgão oficial da União Nacional, Diário da Manhã, solicita-lhe elementos para estudar. Nessa altura, Luís Reis Santos, especialista interessado na história da arte portuguesa dos séculos XV e XVI, prestou, também ele, atenção às tábuas de São Pedro, mas, até à data, nada se sabe destes trabalhos. Quem sabe se nos espólios destes investigadores haverá algo que desconheçamos a este respeito?
Videira Pires tentou estudar comparativamente as obras, inventariou, fotografou, mediu as pinturas e, com estes dados chamou à atenção através do Mensageiro de Bragança e, do Diário da Manhã.
Hoje, a cobertura da igreja está danificada, a água escorre a jorros pelo tardoz do altar-mor, o reverso das pinturas acumulam xilófagos, que reduzem a pó o suporte lenhoso, da talha e das pinturas.
A situação é dramática, mas em breve queremos que as pinturas nos edifiquem com a sua fonte de beleza, por isso enfrentamos o dramatismo com largueza de espírito. A pandemia enfraqueceu a já de si enferma economia das Fábricas das Igrejas, mas não há-de ser por isso que não havemos de manter esta pequena jóia de mais de quinhentos anos. Constitua-mo-nos mecenas!
Neste mundo ninguém está livre de censuras, uns porque se calam, outros porque falam, então falaremos abundantemente sem cesuras, pois dos medrosos não reza a história!

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