Pe. Manuel Ribeiro

«Que tens tu que não tenhas recebido?»

«Que tens tu que não tenhas recebido?» (1 Cor 4, 7) é uma advertência que São Paulo faz à comunidade de Corinto, lembrando que a vida é dom. Não um dom qualquer, mas ‘dom’, é dom de Deus. Tudo é dado, tudo nos é ofertado pela primorosa orgânica da vida e da existência natural. Até o tempo é dado para sermos mais nós e menos eu. Esta perspectiva doativa da existência projeta-nos para o horizonte da alteridade, ou seja, olhar o outro, o irmão, como verdadeiro dom.


Desafio sempre novo: «Nascer de novo» (Jo 3, 3)

Neste novo ano, e a convite do Papa Francisco, somos todos convidados a caminhar em direcção à fundamentação missionária, ou seja, re-descobrir a vocação e eleição como dom maior de Deus para cada um de nós. Este processo de re-descobrimento antecede um encontro e, por isso, implica uma profunda conversão e mudança. Não um encontro qualquer, mas aquele encontro que nos transforma, que nos muda, que faz morrer o nosso ‘eu’ velho e nos projecta para um novo estado de ser e de estar. É seguir a proposta de Jesus a Nicodemos: «nascer de novo» (Jo 3, 3).


Um exemplo de generosidade e de confiança

Há dias tivemos a graça de escutar e de reflectir atentamente o trecho do Evangelho de Marcos (Mc 12, 41-44) em que nos apresenta uma viúva que “apenas” entrega no tesouro do Templo «duas moedas, isto é, um quadrante» (Mc 12, 42). Este trecho do Santo Evangelho transmuta-nos para o útero materno, para o lugar onde eu, apesar da minha total nudez e dependência, tudo possuo, tudo tenho, tudo me é dado.


Como é que Te chamas Jesus?

A forma tão óbvia e tão estranha desta enunciação ajuda-nos a perceber que o nomear Deus com o nome de ‘Jesus’ não advém, quase sempre, de um encontro fundante e fundador com Ele. Nomeamo-Lo assim deve-se ao facto de alguém nos ter dito (e ensinado) que Ele assim chamava e não ao facto – salvo raríssimas excepções – de eu próprio me dispor a querer descobri-Lo, a conhecê-Lo, em ir ao encontro d’Ele, deste Deus que permanentemente me chama e que constantemente me pede para que me dirija até Ele, bem junto d’Ele, e n’Ele me enamore e fique inebriado na presença.


Dom da Esperança

Num tempo marcado de incertezas, assente na ditadura do relativismo e de indiferença, são ainda muitos os que optam por seguir a Cristo com determinação, abrindo ao mundo em que vivemos caminhos e janelas de esperança, mostrando que a Igreja deve ser cada vez mais sinal e sacramento de vida e de libertação. Urge que sejamos, todos (!), agentes da Esperança.


Da ‘fé’ [de Tomé] à Fé

«Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto» (Jo 20, 29). Esta é a resposta que Jesus dá a Tomé – e também a cada um de nós – e que surge pela dificuldade de acreditar, de confiar e de amar do próprio Tomé. Mas o que significa isto? Significa que são felizes aqueles que fazem a experiência pessoal com Jesus. Não uma experiência sensorial, folclórica ou cogniscível. Antes, é um encontro que se faz no mais íntimo de mim mesmo, no fundo mais fundo do meu coração.


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