José Mário Leite

Caim/Cain

Os nomes não são mais do que meras convenções. Se dermos outro nome à flor a que chamamos rosa não perderá por isso o seu perfume diz a Julieta a Romeu no famoso romance de Shakespear de que fiz uma tradução livre. Apesar de tudo nomes há que, parecendo renegar a sua convencionalidade, como que ganham vida própria, agarraram-se à coisa nomeada acabando por perder toda a sua natureza de convenção e transformam-se no objeto que “nomeiam”. Nestes casos torna-se impossível separar o nome da coisa ou de a esta dar outro, que não poderá nunca ser se não uma outra etiqueta qualquer.


Bizarria?! Nem pensar...

Quem tiver o desígnio de ser um bom gestor, se quiser levar o seu intuito a sério e de forma honesta, saberá ou aprenderá a primeira regra da gestão: só se controla aquilo que se conhece. Gerir é controlar. Foi por reconhecer esta verdade quase banal, de tão óbvia, que o legislador, no longínquo ano de 1999, tornou obrigatória a adoção da Contabilidade de Custos mais vulgarmente conhecida Contabilidade Analítica.


Requiem pela Geringonça

Muito se tem falado sobre os possíveis acordos parlamentares (ou governamentais) após as próximas eleições legislativas. Tudo se tem centrado à volta da possibilidade de o PS obter, ou não, a maioria absoluta em outubro próximo. Erradamente, a meu ver. A solução governativa não está cativa de maiorias absolutas, tal como nunca esteve. Foram vários os governos minoritários e a condição de exercício do poder passou, como continua a passar, pela existência ou não de uma maioria que se lhe possa opor.


Artur

Há homens que imprimem uma marca no seu tempo, no local onde vivem e, sobretudo nas pessoas, com quem se relacionam, de tal forma vincada, impressiva e duradoura que difícil e tardiamente se diluirá. Artur Pimentel foi um desses homens. Cultivou, como poucos, as relações humanas, sem exceções e brindou alguns de nós com uma amizade sincera, desinteressada, íntegra e solidária.
Foi um político de eleição. A sua integridade, honradez e espontaneidade só encontravam rival no seu tratamento humano, afável e tolerante.


Os hospitais não são centros de saúde

Aos hospitais acorre quem está doente e, como tal, seria mais acertado chamar-lhe Centros de Doenças e não Centros de Saúde. É para as suas salas de espera que convergem a esmagadora maioria da população quando está enferma, trazendo consigo todo o tipo de moléstias e, com elas, grande variedade e quantidade de agentes patogénicos. É também ali que se aplicam, em maiores doses, nem sempre proporcionais e nas quantidades mínimas exigíveis, os mais diversos antibióticos.


Em Saúde, o tamanho... não é medida

Segundo Kristin-Anne Rutter é um erro grave tentar medir a qualidade dos serviços de saúde pelo tamanho dos hospitais ou sequer pelo número de camas disponíveis. No último século a esperança média de vida, quase duplicou e ainda há, tudo o indica, margem de crescimento. Se à longevidade se somarem os recentes e constantes avanços científicos, que têm vindo, paulatinamente, a transformar doenças agudas e fatais, em doenças crónicas e tratáveis, facilmente se percebe o porquê do grande acréscimo contínuo nas despesas de saúde.


Inaceitável discriminação

Se o aforismo garante que muitas vezes os últimos são os primeiros em nada advoga o inverso nem mesmo a título de compensação: nada implica que os primeiros passem a últimos. Quando em setembro de 1989 era inaugurado o primeiro troço do IP2, entre o Pocinho e a Ponte do Sabor, ninguém de bom senso (ou até de um senso mediano) poderia imaginar que trinta anos depois, continua por concluir a ligação que, precisamente, atravessa o Vale da Vilariça. E, pelo que é sabido, não está para breve a “resolução do problema ambiental correlacionado com a travessia do Douro”.


Assinaturas MDB