José Mário Leite

DO BUTELO E DA VERGONHA

A Câmara Municipal de Bragança desceu à capital para promover a semana do Butelo e das Casulas. No mais transmotano dos restaurantes alfacinhas, o Nobre, ao Campo Pequeno, pertinho da Casa de Trás-os-Montes foi servida lauta refeição a condizer com o evento. Membros do Governo, Deputados e outras individualidades transmontanas, tuteladas pela figura patriarcal de Adriano Moreira, fizeram do restaurante de entrecampos território nordestino.


António (de novo)

A revista Visão trouxe, num dos seus últimos números, um artigo sobre as obras na praia D. Ana em Lagos. Veio-me à memória, de imediato, a minha primeira crónica em Fevreiro de 2007 sobre trabalhos idênticos a estes, na praia da Costa da Caparica apoiadas por ambientalistas que se opunham ao início da construção da Barragem do Baixo Sabor. A comparação é inevitável. Embora com cores ainda mais carregadas, embora com resultados confirmados sobre o que em fevereiro de 2007 eram apenas suposições embora com enorme dose de previsibilidade, da minha parte, que o tempo acabou por confirmar.


AGOSTO NORDESTINO EM CARCAVELOS OUTONAL

São mais de meia centena de histórias, lendas, ditos e relatos curtos que me chegam pela pena talentosa da moncorvense Júlia Guarda Ribeiro que o editor e amigo António Batista Lopes reuniu e editou com a chancela da Âncora Editora num volume sob o título de “Contos no Terreiro ao Luar de Agosto”. Trata-se de uma fabulosa coleção de contos curtos (duas a quatro páginas na sua maiora) ouvidas pela autora nas cálidas noites de Agosto, às velhas que se juntavam no bairro da Corredoura para partilharem memórias, ditos, saberes e experiências.


EM QUEM OU EM QUÊ?

É conhecido o ciclo breve da memória dos eleitores e da forma como muitos eleitos disso fazem uso, em proveito próprio. É recomendável que não abusem eles mesmos de idêntica falta de memória mais que não seja, para evitarem desilusões e prejuízos irrecuperáveis.
 


Estabilidade

A estabilidade governativa é, queira-se ou não, um benefício para Portugal. Nos que a defendem nunca a vi condicionar a qualquer cor política ou partidária. É-o e deve ser defendida quer se esteja no governo (e aí não tenho dúvidas sobre a genuinidade da sua defesa) quer se esteja na oposição (e, neste caso, não basta afirmá-lo se a prática não o confirmar). E isto nada tem a ver com o exercício legítimo e salutar da oposição forte, fiscalizadora, atenta, exigente e mesmo dura, porque não? Mas nenhum destes temas deve ser, quer na forma, quer no conteúdo, um atentado à estabilidade.


QUE SE LIXE

Quando em Julho de 2012 Pedro Passos Coelho reiterava perante os deputados social-democratas  que as vitórias eleitorais seriam sempre uma meta secundária perante o verdadeiro objetivo principal: o país que tinha de ser salvo quer do atoleiro em que se encontrava na altra, quer do garrote sufocante que a troica lhe aplicava implacávelmente, muita gente viu nessa afirmação, mero marketing político.  Outros acreditaram piamente na genuinidade e sinceridade de tal confidência, por razões várias e entendíveis mas que não vale a pena estar aqui a enumerar e muito menos escalpelizar.


POUCOCHINHO

António Costa apeou António José Seguro por este ter ganho por poucochinho, nas anteriores eleições. “Quem ganha por poucochinho, faz poucochinho” disse e repetiu enfaticamento o ex-presidente da Câmara de Lisboa. O resultado do PS, se não fosse, como foi, uma derrota, seria uma vitória ainda mais escassa que a obtida para as europeias. E seria poucochinho o que o novo Primeiro Ministro socialista poderia fazer.


JOSÉ SÓCRATES Da convicção à (in)certeza

Quando o antigo líder do PS foi preso e acusado, pensei seriamente que ele seria culpado. Eu e a maioria dos que assistiram, atónitos, à detenção, quase em direto, do ex-primeiro ministro. Não passaria pela cabeça de ninguém que o Ministério Público promovesse uma ação daquela envergadura e repercussão sem ter razões sólidas e muitíssimo bem fundadas. A minha indignação deveu-se ao modo humilhante com que o assunto foi tratado, mas imputei o exagero à comunicação social ávida de notícias e fenómenos bombásticos que lhe garantam venda de papel e suporte adequado de audiências.


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